Entrevista - A VIOLÊNCIA NO ESPAÇO ESCOLAR: CONTRIBUIÇÕES DA PEDAGOGIA E PSICOLOGIA

10/07/2023 19:59

 

A VIOLÊNCIA NO ESPAÇO ESCOLAR: CONTRIBUIÇÕES DA PEDAGOGIA E PSICOLOGIA

 

 

Nesta entrevista realizada pelo Fábio Antônio Gabriel (www.fabioantoniogabriel.com) a psicóloga e doutora em educação Thamiris Christine Mendes Berger partilha com os leitores sobre suas pesquisas na área da educação em diálogo com a psicologia que contribuem para refletir sobre a questão da violência no espaço escolar. A entrevistada Thamiris é Licenciada em Pedagogia (2011) pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Bacharel em Psicologia com ênfase em Educação Participativa (2012) pela Instituição de Ensino Superior SantAna, Mestre em Educação (2015) pelo Programa de Pós-graduação em Educação (PPGE) da Universidade Estadual de Ponta Grossa, Paraná e Doutora em Educação (2018) também pelo PPGE. Possui MBA em Gestão Escolar à distância pela USP-Esalq. Atuou como professora colaboradora na Universidade Estadual de Ponta Grossa, (UEPG) Departamento de Pedagogia (DEPED) (2015-2017). Atuou como Coordenadora Pedagógica do Colégio Objetivo de Ituverava, São Paulo, como tutora dos cursos de Educação da UNIP, polos de Ituverava e Franca, SP e como professora formadora do curso de Pedagogia à distância, UEPG. Atualmente faz parte do Grupo de Estudos e Pesquisa Formas Identitárias.

 

Prezada Thamiris, poderia nos falar sobre sua trajetória profissional e atuação como pesquisadora na área de educação?

Thamiris Berger - Sempre tive interesse pelo cotidiano dinâmico da escola, por isso, graduei-me em Pedagogia e em Psicologia entendendo que são duas áreas que se complementam. Por sentir necessidade de aprofundamento teórico realizei mestrado e doutorado em Educação. Tenho experiência na docência na educação infantil, ensino fundamental e ensino superior, e já atuei na coordenação de escola e foi quando senti a necessidade de fazer o MBA em Gestão Escolar. Ao longo dessa trajetória vivenciei diferentes realidades do contexto escolar, o qual é muito complexo e que necessita cada vez mais de uma articulação dos diferentes olhares que as diversas áreas do conhecimento podem proporcionar. Desenvolvi alguns projetos com grupos de pais de instituições educacionais e gosto muito da psicopedagogia com crianças. Como pesquisadora, as pesquisas das quais participei e contribui para o desenvolvimento voltam-se para a formação de professores e a compreensão da identidade profissional docente a fim de cooperar com o processo de profissionalização e valorização do status profissional.

 

Na sua opinião, como entender a violência escolar a partir das interfaces entre pedagogia e psicologia? E como o psicólogo pode contribuir para a diminuição desse fenômeno?

Thamiris Berger - Podemos entender a violência escolar como qualquer comportamento ou ação carregada de agressividade e que causa algum tipo de prejuízo ou dano a outras pessoas ou patrimônio. Sendo assim, é preciso compreender que existem diferentes tipos de violência, pode ser física, verbal, psicológica e sexual. Ademais, também pode acontecer de forma explícita ou implícita. O bullying e o ciberbullying (que é uma forma de bullying virtual), o racismo e qualquer tipo de discriminação são formas de violência.

A escola é um ambiente feito do convívio entre as pessoas, de relações inter e intrapessoais, o que significa que nela estão sujeitos em formação, sujeitos que carregam em si uma bagagem particularmente constituída advinda de suas experiências e identificações sociais e biográficas. Ou seja, nossa identidade carrega marcas das nossas convivências nos diferentes grupos sociais dos quais fazemos parte, como a família, igreja, escola etc., em sua interface com aspectos mais biológicos de seu desenvolvimento.

Pensando nisso, e tendo em mente que existem várias maneiras de se fazer violência, muitas vezes, estamos imersos em relações violentas sem nem mesmo perceber, pois estamos habituados com tais tipos de relações. Dessa forma, trazendo o tema para o contexto escolar, também é preciso pensar em um olhar sobre violência na escola que considere sua multifatorialidade e que leve em conta a instituição educacional pertence a um contexto mais amplo, ou seja, faz parte de uma sociedade que vive um determinado momento histórico. Portanto, ao tratar do tema, há que se considerar fatores econômicos, sociais, psíquicos, ambientais que fazem parte do contexto em questão.

Eu analiso que hoje nós temos mais condições de tomar consciência a respeito do nosso comportamento em sociedade, a fim de determinar o que é violência, o que prejudica o outro... especialmente no que se refere à violência implícita de caráter psicológico, não verbal. Na medida em que dialogamos sobre temas e atitudes que consideramos inaceitáveis, entendemos o que é permitido ou não, o que nos causa danos de diferentes ordens as coisas vão “tomando forma”, por assim dizer. Para exemplificar, há alguns anos, apelidar um colega parecia ser inofensivo, um ato descabido de intenções pejorativas. Hoje, sabemos que isso pode ser uma forma de bullying. Nesse sentido, ações como essa de apelidar, fazer chacotas, brincadeiras de “mal gosto”, para o autor, podem não significar “nada”, mas, para o sujeito que é “vítima” pode ser um contribuinte para que, futuramente, ele próprio passe a ter uma atitude violenta com outras pessoas ou patrimônio. Quero dizer aqui que quando um sujeito é exposto à situações de violência e vulnerabilidade ao longo de sua vida, há uma tendência de que esse comportamento seja reproduzido por ele futuramente. Obviamente que cada história de cada pessoa é singular e merece atenção especial (realmente, cada caso é um caso!) e que não tem como sabermos com certeza o que levou aquele sujeito a agir daquela forma.

O que fazemos com apoio da Psicologia é uma análise histórica e contextual buscando mais elementos possíveis sobre o meio em o sujeito vive, como foi criado, como eram as relações familiares, aspectos neurobiológicos e por aí vai. A partir disso, torna-se possível identificar alguns elementos que podem ser fatores que levaram o sujeito a agir de determinada maneira.

É, com isso, a figura do psicólogo como profissional capacitado a compreender o comportamento humano, extremamente importante na escola, pois ele é capaz de identificar nos diferentes atores sociais possíveis indícios de comportamentos violentos e desenvolver um trabalho que atue na prevenção das diferentes violências que podem existir nos espaços educativos, sempre proporcionando reflexão de todas as partes envolvidas. O papel do psicólogo então é o de prevenir a violência e de “saná-la” levando os sujeitos à tomada de consciência e diálogo a respeito da temática.

 

O anonimato nas redes sociais e na internet como um todo contribui para que as pessoas se sintam que não serão responsabilizadas na prática de violência?

Thamiris Berger - De fato, o mundo virtual possibilita que as pessoas fiquem “livres” para serem aqueles sujeitos que desejam... sem “filtros”. É como se por trás das telas, atrás de um computador fosse possível “fazer tudo aquilo que não é possível no mundo real”. O sujeito ganha força, se sente empoderado, ainda mais se observa que existem outras pessoas compartilhando do mesmo pensamento ou opinião. É nesse momento que o ódio é expressado, deixando-o público e, muitas vezes, recebendo “aplausos”, é validado. Assim acontecem assédios, julgamentos, o falar o que quiser, xingamentos, brincadeiras de mal gosto, todos revelando discursos de ódios de sujeitos que se escondem no anonimato. É assim também que acontecem muitos crimes e golpes, a pessoa cria um perfil falso a fim de obter vantagem sobre outras pessoas, isso se chama “catfish”. Enfim, sabemos que esse anonimato não vai tão longe assim e que as autoridades são capazes de identificar o autor das mensagens, por exemplo. Também é preciso refletir sobre a liberdade de expressão e que ela perde o seu sentido quando se recorre ao anonimato para ferir outras pessoas, está se ultrapassando um limite, o dos direitos humanos.

 

Como distinguir indisciplina da violência escolar?

Thamiris Berger - A indisciplina pode ser analisada como situações que ocorrem em sala de aula e que prejudicam o processo de ensino e aprendizagem. Podemos entender que seria o desrespeito às regras da escola.

Dessa forma, a partir dos meus estudos e também atuação como professora, inclusive de Didática, pode-se pensar que a indisciplina se relaciona muito com a gestão da sala de aula que é feita pelo professor, essa gestão é feita desde os momentos de planejamento de suas aulas, um planejamento que seja coerente, coeso e que seja capaz de mobilizar os alunos para a aprendizagem, passa pelo momento da execução do plano de aula, buscando uma atuação dialógica e envolvente e ainda tem o pós-aula, em que cabe ao docente refletir e avaliar o que foi trabalhado e como. Ou seja, por exemplo, se o professor não se organiza minimamente para suas aulas, utiliza materiais ultrapassados e desinteressantes, não envolve a turma no diálogo, é um forte candidato a presenciar situações de indisciplina, pois o aluno não “prende sua atenção” e, com isso, vai conversar, “fazer bagunça” ou outras atividades que o interessem, podendo ser entendido este comportamento como indisciplina. Fato é que não podemos atribuir “culpa” da indisciplina ao professor, por favor, não me compreendam assim! O que quero mostrar é que a indisciplina na sala de aula pode ser prevenida e antecipada, em muitos casos, por aquele que gerencia ou administra a sala de aula por meio de uma relação construída de autoridade, o que é diferente de autoritarismo. Ainda há que se considerar que a indisciplina também envolve diferentes sujeitos e, portanto, são diversos os fatores que podem ser sua causa, ou suas causas. Já a violência é algo mais grave e que pode envolver punições pelo Código Penal.

Em suma, embora existam diferenças entre os dois conceitos, indisciplina e violência escolar, essa fronteira, o seu limite, não é tão perceptível ou claro, podemos concluir aqui que a violência é algo que extrapola os muros da escola e a indisciplina está intimamente relacionada com o processo de ensino e aprendizagem.

 

Você considera a saída para a superação da violência apenas o aumento de forças policiais e agentes de segurança nas instituições escolares?

Thamiris Berger - Acredito que para uma superação da violência nas escolas deve existir um trabalho muito intenso e coletivo que envolve desde políticas públicas e investimento adequado na Educação até ações mais específicas nas escolas e nas comunidades com projetos, por exemplo. O aumento das forças policiais pode gerar uma sensação momentânea de segurança e pode até evitar que algumas ações violentas aconteçam, porém, não vejo que seja essa a solução de fato para uma superação ou até mesmo melhora dos índices de violência escolar.

 

Como a psicologia pode contribuir para uma reflexão da sociedade em relação à dimensão saudável da relação com as tecnologias? Como as tecnologias podem contribuir para a educação?

Thamiris Berger - Hoje, não podemos deixar de discutir e refletir sobre as tecnologias que nos cercam, pois estamos imersos em telas, facilidade de acesso à informações, muitos aplicativos que podem facilitar nosso cotidiano sobre os mais diferentes temas. De modo geral, considero que a tecnologia tem potencial de possibilitar que o processo de ensino e aprendizagem seja mais prazeroso, produtivo e encantador. Entretanto, não basta usar de recursos tecnológicos e magicamente as aulas ficarão melhores e a aprendizagem se tornará mais significativa. Para isso, o professor precisa conhecer muito bem e explorar os diferentes recursos que se fazem disponíveis.

É preciso pensarmos que a tecnologia afeta/influencia do maneira significativa as relações humanas e, portanto, merece atenção especial. Há que se compreender que o uso inadequado e excessivo de tecnologias pode trazer prejuízos para o próprio desenvolvimento dos sujeitos, sejam adultos ou crianças, além de influenciar as relações entre os sujeitos. Os impactos de um mal uso de tecnologias são diversos e precisam sempre ser considerados, desse modo, a Psicologia tem muito a contribuir sobre o seu uso saudável. Torna-se necessário conhecer o que se considera como adequado com relação ao uso de telas, por exemplo, em cada fase da infância e adolescência para que possamos alertar os pais e cuidadores sobre os riscos de uma exposição excessiva. Portanto, considero que os conhecimentos psicológicos são aliados importantes da educação para um processo de conscientização sobre as tecnologias.

 

Percebe-se várias reportagens falando sobre a dimensão da ansiedade no espaço escolar. Como você entende o motivo de tanta ansiedade na população em geral e naqueles que estão no âmbito escolar?

Thamiris Berger - É comum ouvir dizer que a ansiedade é “o mal do século”, e, de fato, é perceptível essa ansiedade de modo geral nas pessoas. Como psicóloga e professora eu consigo notar que o imediatismo do mundo em que vivemos, a facilidade de informação que temos a partir das tecnologias são e as constantes mudanças de uma “modernidade líquida” são causadores de ansiedade.

A ansiedade acomete pessoas de diferentes idades e se manifesta de formas variadas. Em primeiro lugar, há que se compreender que, até certo ponto, a ansiedade e o medo são normais e importantes e fazem parte das nossas vidas, isto, porque, fazem parte do nosso processo de adaptação e sobrevivência diante de situações novas. O medo trata-se de uma resposta biológica do nosso organismo que visa a preservação da vida e se manifesta em situações perigosas e a ansiedade, por sua vez, é uma antecipação de uma ameaça que pode vir a acontecer de fato ou não. Portanto, no contexto escolar, precisamos conhecer as limitações do que é normal e do que se considera patológico no que tange à ansiedade e o medo, para que assim, enquanto profissionais da educação, possamos fazer os devidos encaminhamentos aos profissionais da saúde para que seja oferecido o tratamento adequado e a melhor maneira de se lidar com a situação. A escola precisa saber identificar situações em que os sujeitos estão sofrendo por conta da ansiedade e também precisa encontrar caminhos possíveis para amenizá-la.

 

Poderíamos falar sobre suas pesquisas de mestrado e doutorado na UEPG (Universidade Estadual de Ponta Grossa) na área da educação? Quais as conclusões que chegou de suas investigações?

Thamiris Berger - No mestrado, a minha dissertação teve como inquietações a percepção de que o professor, em geral, é um sujeito muito queixoso, ou seja, sempre está reclamando e, com isso, desvalorizando, ainda mais, sua própria profissão. Com o título “PROFISSIONAL DOCENTE: O SER E O MANTER-SE NA DOCÊNCIA” investiguei o que é, de fato, ser professor e o que mantém os professores nessa profissão. Em síntese, a partir dos dados empíricos coletados com professores experientes, com o estudo, foi possível concluir que ser professor envolve ser um profissional: da transformação, do conhecimento e da incerteza. Além disso, confirmamos que os próprios professores relacionam a docência à comprometimento, dedicação e transformação.

Com apoio de um aporte teórico psicanalítico, concluí que ser docente passa por um processo transferencial significativo em que as relações interpessoais são protagonistas importantes, ou seja, é por meio das relações que o ser professor acontece. Com isso, constei ainda que ser professor ultrapassa o processo de ensino e aprendizagem, os docentes têm outras preocupações e necessitam dar conta de situações que transcendem a sala de aula, reforçando ainda mais a complexidade de dinamicidade da profissão docente. Ser professor não é generalizável para todos os docentes, pois para esta definição há que se considerar as condições profissionais do professor, as suas relações de trabalho e suas particularidades sendo dependente das vivências do docente. Por fim, nota-se que o que move o professor é o desejo de transformação.

A partir do desenvolvimento da pesquisa mencionada, surgiram novas inquietações que me levaram à necessidade de aprofundamento de estudos sobre a identidade docente. Foi nesse momento que no processo de doutoramento em Educação, na tese intitulada “CONFIGURAÇÃO IDENTITÁRIA DO PROFESSOR FORMADOR DE DOCENTES”, visou compreender melhor quem é o professor que forma professores. Portanto, o objetivo da pesquisa foi analisar quais características desvelam a configuração identitária de professores formadores de docentes da Universidade Estadual de Ponta Grossa, Paraná. Após um exaustivo processo de coleta e análise de dados, foi concluído que existem características de identidade que podem ser consideradas como pertencentes à cultura do ser professor e, tais características passam, essencialmente, pelo regime de trabalho que o professor atua. Tendo como base a perspectiva sociológica da identidade, destaco algumas das características identitárias que prevaleceram em nossa investigação com professores formadores de docentes de uma instituição estadual pública de ensino superior: são docentes efetivos com dedicação exclusiva; possuem como motivação pela docência universitária contribuir para a formação de professores; destacam que a docência é uma profissão importante para a sociedade; identificam-se como formadores de professores; almejam promover transformação social; desejam formar profissionais realizados profissionalmente e engajados em transformações sociais e, por último, definem que são as principais características para o formador de docentes: ter habilidades sociais, ter experiência na docência e conhecer a realidade escolar/educacional e, em terceiro lugar, ter conhecimentos didático-pedagógicos.

O estudo nos mostrou que há uma nova profissionalidade docente em construção que luta a fim de superar a crise identitária e o baixo estatuto social que implicam mais desafios à docência. Sinteticamente, revela-se algumas constantes de identidade identificadas na pesquisa: sentimento de pertencimento, formar professores é impulsionar transformações sociais, profissão não reconhecida, professor deve ser socialmente habilidoso, experiência como fator determinante da prática de formar professores e conhecimentos didático-pedagógicos.

Portanto, reitera-se a necessidade e imprescindibilidade de investimento institucional em processos de formação contínua pedagógica de modo contextualizado na intenção de alcançar melhorias na articulação do tripé ensino-pesquisa-extensão que move o trabalho universitário. A partir disso, torna-se viável o desenvolvimento profissional docente que promova a constituição de uma profissionalidade que se revela em uma identidade docente bem consolidada.

Convido-os à leitura dos textos completos da dissertação e da tese para compreensão das trajetórias que foram se delineando no processo de pesquisa e das tessituras que estão envolvidas.

DISSERTAÇÃO: https://tede2.uepg.br/jspui/bitstream/prefix/1172/1/Thamiris%20Mendes.pdf

TESE:

https://tede2.uepg.br/jspui/bitstream/prefix/2731/1/Thamiris%20Christine.pdf

 

Você organizou as obras “Possíveis caminhos na formação de professores: articulando reflexões, práticas e saberes” (Editora Multifoco) além de “Educação contemporânea em perspectiva” (Editora Multifoco). Como você entende a importância da formação de professores na contemporaneidade?

Thamiris Berger - Primeiramente, foram experiências muito significativas de organizar os livros mencionados, pois trabalhando em equipe, passei a conhecer vários autores e suas obras trazendo contribuições e reflexões importantes para a educação e especificamente formação de docentes.

A formação de professores, hoje, necessita muito de um olhar mais atento. Formar docentes é um desafio imenso. Nosso desejo é o de formar professores cada vez mais qualificados, que sejam capazes de promover transformações na sociedade, que construam alunos como seres completos, de fato cidadãos, seres pensantes e críticos. Para isso, exige-se um processo de formação de professores que seja capaz de alcançar tais desejos. Entretanto, por outro lado, se queremos formar professores mais reflexivos, críticos, competentes e que sejam capaz de lidar com as mudanças constantes na educação, precisamos de apoio de políticas públicas e de um sistema educacional que apoie isso. Nota-se, facilmente, um movimento contrário a isso quando os governos atuais deixam de investir na educação, buscam formas mais “baratas” e rápidas de formar docentes, boicotando instituições públicas de ensino, desvalorizando o trabalho docente, promovendo uma formação aligeirada e focada apenas na dimensão técnica do fazer docente. A técnica é imprescindível, porém, a técnica por si só não gera criticidade, a qual, por sua vez, só é viabilizada em relação estreita com as dimensões política e humana.

Dessa forma, não consigo ver uma formação de alunos na educação básica de qualidade sem que sejam formador docentes com qualidade. Vivemos em tempos de urgência na busca de uma profissionalidade do professor que dê conta das demandas da educação, ou, pelo menos, que consiga compreendê-las e analisá-las criticamente.

 

Gostaria de partilhar outras experiências suas e produções acadêmicas?

Thamiris Berger - Gostaria de agradecer a oportunidade de estabelecer um diálogo sobre temas tão importantes e emergentes. Coloco-me disponível para interlocução e debates construtivos com outros autores e leitores. Deixo como sugestão de leitura dois artigos escritos por mim e que abordam os resultados das pesquisas desenvolvidas no mestrado e doutorado:

1. Ser professor e manter-se na profissão: um estudo com docentes da educação básica. Disponível na Revista Educação: teoria e prática, v. 27, p. 396-415, 2017. (Link para acesso: https://www.periodicos.rc.biblioteca.unesp.br/index.php/educacao/article/view/11056 )

2. O formador de professores e sua identidade profissional. Disponível na Brazilian Journal of Development, v. 9, p. 12615-12634, 2023. (Link para acesso: https://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BRJD/article/view/58610 )