Resenha - O Talismã (1825), de Walter Scott

Resenha - O Talismã (1825), de Walter Scott

Resenha – O Talismã (1825), de Walter Scott.

 

Por Giuliano de Méroe

 

Walter Scott, autor escocês, é considerado pela literatura como o criador do gênero romance histórico, por suas pesquisas e recursos às fontes baseadas em dados comprováveis e fatos históricos reais. Nesta obra, ele faz uma adaptação mais suave, de seu clássico mais famoso Ivanhoé, criando uma trama ficcional em torno do personagem guerreiro normando, Cavaleiro Sir Kenneth.

Enviado de Escócia, por um Conselho Secreto, o Cavaleiro atravessa o deserto sírio, para se reunir aos Cruzados da Palestina. Desejando descansar e se refrescar do sol escaldante do deserto, ele avança seu passo com o cavalo; ao avistar uma região repleta de palmeiras e um poço, se depara com um guerreiro sarraceno. Após uma luta rápida, ambos decidem-se pela trégua, comprometendo-se em um companheirismo fiel.

Em um curto capítulo, Scott, descreve os contrastes entre os dois, visíveis na vestimenta, nas armas, na comida e também sobre o amor às mulheres. Aspecto importante do livro, pois entre o monarca inglês e o Sultão ocorre o mesmo, em suas divergências como poderosos líderes. No terreno da moralidade ambos são tremendamente capazes de justificar o próprio rigor e, assim, o respeito mútuo não surge tão naturalmente... ele acontece mais por uma espécie de prova de intensidade entre duas partes.

Sob responsabilidade do Conselho dos Príncipes e, portando um salvo-conduto selado por Saladino, o escocês foi incumbido de levar uma mensagem secreta ao Santo Teodorico de Engaddi, eremita recluso, com privilégio moral e religioso entre cristãos e muçulmanos.

O objetivo do Conselho (aproveitando-se da ocasião em que o líder Ricardo adoecera de um febre típica da Ásia e seu exército parecia perder o ritmo), era propor, sem conhecimento do Rei Ricardo, por intermédio de Engaddi um tratado de paz permanente e a retirada das tropas cristãs da Palestina.

Muitas dificuldades surgem na vida do Cavaleiro escocês: Em uma das missões em que foi designado pelo Rei para vigiar a bandeira da Inglaterra, ele foi levado a abandonar sua vigilância, caindo em uma armadilha articulada pela Rainha Berengária, a esposa real de Ricardo, que manobrou o único pretexto que poderia demover o Cavaleiro de sua obrigação: o de poder ver novamente a dama de seus sonhos, Edith da família Plantageneta – de origem real e parenta do Rei.

Outro ângulo da trama: Sir Kenneth trouxera consigo, através do Conselho Geral dos Príncipes e Reis, um médico mouro, Hakim, cujo talento especial, recomendado pela palavra de honra de Saladino, seria capaz de curar o monarca. O que de fato aconteceu, mas não antes de o escocês primeiro convencer o Lord de Vaux  - fidalgo mais próximo da guarda real e responsável diretamente pela vida de Ricardo, da competência e integridade do médico.

Paralelamente aos acontecimentos havia conspirações entre os Príncipes aliados, contra o monarca inglês — O arquiduque, Leopoldo da Áustria, Marquês de Montserrat e o Grão-Mestre dos Templários entre outros membros do Conselho Geral das Cruzadas, que articulavam acordos escusos entre si à traição, a fim derrubar o Rei.

Em um momento certo da narrativa, o escocês finalmente revela sua identidade que havia propositalmente ocultado, era David, Conde de Huntingdon, Príncipe Real da Escócia, e considerado um inimigo ainda mais perigoso que Saladino. Claro que tal revelação, se deu somente em um momento muito oportuno, em que não enfrentaria a cólera de Ricardo e com isso realizava um sonho muito antigo, de se casar com Edith de Plantageneta...

Romance simples de se ler, muito agradável para que aprecie História, devido aos fatos reais estarem presentes no romance.  Conta a favor, a elegância encantadora de Walter Scott em demostrar como povos tradicionalmente inimigos podem ser capazes de se respeitar, dentro dos severos códigos de cavalaria.