Resenha Crítica - Obra: Pais e Filhos 1862 - Ivan Turguêniev

Resenha Crítica - Obra: Pais e Filhos 1862 - Ivan Turguêniev

Giuliano de Méroe

 

Resenha Crítica:

Obra: Pais e Filhos (1862) – Ivan Turgueniev

 

A obra Pais e Filhos, publicada pelo escritor russo Ivan Turguêniev, entre o final de 1860-1862, num momento histórico de muita convulsão social, política e econômica que seu país atravessava. Nessa data, sob o governo do Czar Nicolau I, foi decretado à abolição da servidão (regime em que os camponeses eram propriedades dos senhores de terra) e fundado o movimento Terra e Liberdade (organização política secreta) cujos intelectuais russos deliberavam sobre os objetivos das ações de violência contra as autoridades e as instituições oficiais da autocracia.

É considerada a principal obra do autor, cuja prosa romanceada mostra cenas do cotidiano dos mujiques[1]. Diferentemente do Brasil, cujos os negros eram transportados da África para trabalharem nas fazendas de café e algodão, os servos da Rússia, eram camponeses natos, obrigados a prestar obediência aos proprietários de terras sem direito a nada.

O livro Pais e Filhos, destacou-se por dar ampla circulação ao conceito niilista, obra que popularizou o termo niilismo, cuja raiz vem do latim nihil, e significa “nada”. Segundo Turguêniev, o niilista é uma pessoa que não se curva a nenhuma autoridade, e não admite em nenhum princípio sem provas. O conceito “niilismo” está muito presente na filosofia de Nietzche, embora este adote o termo em um rumo mais próximo ao pensamento de Dostoiévksy.

 Em Turgueniêv, o niilista é encarnado pelo protagonista Bazaróv. Através dele, Ivan Turgueniev expressa esse novo princípio/sintoma que mal começava a aparecer na história.  A intenção do autor foi investigar em termos literatos, um novo quadro social novo que irrompia explosivamente.

O contexto da vida escritor, explica o porquê de suas preferências (ou falta delas) políticas. Fora educado severamente pela mãe e presenciou muitas cenas de humilhação dos servos nas mãos de sua mãe, fato que também o influenciou na sua forma liberal de pensar.

Como o nome sugere, o livro reflete o tão repetido conflito de gerações entre os pais e os filhos. Na obra, entre as cenas, podemos presenciar dois personagens centrais, pai e filho, (Nicoláu Pietróvitch e Arcádio) que se enfrentam nas típicas discussões de família entre as refeições, devido às experiências de vida diferentes, bem como Bazaróv e Pavel (Tio de Arcádio). Esses debates à mesa, são um reflexo do contraste entre valores da elite aristocrática e esse novo princípio que surgia.

Bazaróv simboliza um personagem que instiga e provoca, porque que nega as autoridades, não acredita na medicina, não dá nenhuma importância aos esforços da filosofia e poesia, e critica quem ‘perde tempo’ com essas leituras. Mesmo sendo um ser fictício, sua personificação da forma de encarar a vida sem princípios e seu modo de pensar (niilismo) influenciou de tal forma os leitores da época, que o próprio autor chegou a ser acusado pelas autoridades, como incentivador das revoluções, ações de violência e incêndios criminosos ocorridos, na ocasião, em São Petersburgo.

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[1] Termo que designa o camponês russo.