A Relação Professor-Aluno para uma perspectiva educacional-contemporânea

A Relação Professor-Aluno para uma perspectiva educacional-contemporânea

A RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO PARA UMA PERSPECTIVA EDUCACIONAL CONTEMPORÂNEA

 

                                                                                                                                    Por Eliane Reis 

 

 

QUAL É O PAPEL DA EDUCAÇÃO E DO DOCENTE EM RELAÇÃO AO MUNDO CONTEMPORÂNEO?

 

Diante das evidentes crises que o mundo atual vem enfrentando em todos os âmbitos do saber e do fazer humanos, notadamente no da educação, atingindo conceitos de autonomia, emancipação e liberdade, cabe-nos repensarmos sobre a prática educacional e refletirmos sobre novos métodos de ensino, e sobre as competências necessárias para fazê-lo.

 

“Por isso é que, na formação permanente dos professores, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática. É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática. O próprio discurso teórico, necessário à reflexão crítica, tem de ser de tal modo concreto que quase se confunda com a prática”. (FREIRE, 1996, p.39)

 

Isso deve ocorrer para que possamos, de fato, compreender e ensinar a pensar os problemas existentes esbarrados diante da pluralidade dos diferentes contextos culturais de uma sociedade a qual modifica consideravelmente seus processos de socialização e de formação de identidade.

Segundo Hernann (2001, p.90), “embora a sociedade imprima a educação um caráter de constante mutação, como incontrolável, nós não devemos entender este processo como de desorientação”. Assim, se torna impossível manter um modelo ideal de educação e, menos ainda, de se continuar com a aplicação das tradicionais práticas pedagógicas. No entanto, a multiplicidade dos contextos sociais requer novos moldes e técnicas, que se renovem, e constantemente, renovem os objetivos da mesma.

Muitos expedientes concorreram para essa necessidade de transformação dentro do contexto educativo, dentre eles, a globalização, os avanços tecnológicos e as recentes descobertas da ciência. Cabe, pois, ao educador uma nova abordagem na prática educativa, sendo ela integrante e facilitadora da cidadania, uma vez que a educação deixa de ser patrimônio exclusivo dos docentes, passando a um caráter mais amplo e participativo de toda uma sociedade. Desse modo, surge de acordo com Imbérnon (2004, p.9), “uma nova forma de ver a instituição escolar, as novas funções do professor, uma nova cultura profissional e mudança no posicionamento de todos os que trabalham na educação”. 

Este novo perfil de educação exige um comprometimento sério viável às demandas do mundo contemporâneo.

 

“Educar, hoje, não é mais apenas satisfazer as necessidades      sociais de emprego, no sentido restrito; o mercado de trabalho exige pessoas com visão ampla, o que engloba autoconhecimento, desejo contínuo de aprender, capacidade para lidar com o imprevisível, com a mudança, porque a vida é dinâmica, as mudanças são velozes e cada momento é novo”.  (PEREIRA & HANNAS, 2000, p.39)

 

Nessa perspectiva, a educação tem por finalidade criar condições para o aprendiz encontrar o seu ser e ao mesmo tempo, tornar-se plenamente engajado como pessoa ativa e cidadão consciente dentro de uma determinada sociedade. Para tanto, faz-se imperativo, nesse contexto, educadores empenhados no crescimento de seus alunos e também no seu próprio crescimento integral, imbuídos de sua missão, contribuindo, significativamente, a fim de que a educação envolva o aprendiz na sua totalidade.

Para Alarcão (2001, p.23), “compreender o mundo, os outros e a si mesmo, bem como as interações entre estes vários componentes, sendo capaz ele de intervir, estabelecendo o alicerce para a vivência e a cidadania”.

Eis o grande desafio que nós educadores temos pela frente – educar para ser. É, pois, preciso uma prática atual, dialógica e perspicaz que envolva o aluno e o professor numa relação de cumplicidade e permuta de saberes.

 

A IMPORTÂNCIA DO DIÁLOGO NO AMBIENTE ESCOLAR

O diálogo tem sido enfoque de muitas discussões e sua eficácia é comprovada em diversos contextos. No âmbito escolar, espaço complexo que abrange diversas facetas, o diálogo é de suma importância, pois possibilita a comunicação, bem como a interação entre professor e aluno.

A escola enquanto instituição educativa desempenha um papel fundamental, visto que sua função social é preparar o indivíduo para a convivência em grupo e em sociedade, além, é claro, da sua competência epistêmica, que visa à apropriação de conhecimentos acumulados. Neste sentido, abordaremos o diálogo como condicionante para uma boa interação entre professor e aluno, estendendo-se à convivência em grupo dentro de uma perspectiva social, isso fará da escola um ambiente mais prazeroso e feliz.

 

“Eu diria de bom grado que as relações pessoais na escola são de três naturezas.

A escola é um lugar onde o aluno progride:

_ com a ajuda dos colegas, através de suas relações com seus iguais, ele toma conhecimento dos outros ‘na escola’;

_ através de suas relações com pessoas que são um pouco superiores a ele: os professores e todos os outros adultos que contribuem para o funcionamento do estabelecimento;

_ através de suas relações com realidades elevadíssimas: as grandes obras e seus criadores, aos quais os professores servem essencialmente de intermediários”. (SNYDERS,1993, p.69)

 

             Assim, o vínculo entre o diálogo e o fator afetivo é o respeito para com o outro, não só como receptores, mas enquanto indivíduos.  Essa relação afetiva que o aprendiz estabelece com os colegas e professores irá constituir a base de todas as reações da pessoa diante da vida.

 

“Os laços efetivos que constituem a interação Professor-Aluno são necessários à aprendizagem e independem da definição social do papel escolar, ou mesmo um maior abrigo das teorias pedagógicas, tendo como base o coração interação Professor-Aluno, isto é, os vínculos cotidianos”. (AQUINO, 1996, p. 50)

 

Desse modo, constatamos que a interação entre educador e educando perpassa as aquisições cognitivas, e o diálogo é uma “ponte” segura para essa interação, constituindo instrumento propício de intercâmbio, viabilizando a aprendizagem.

Contudo, para que isso seja fato é preciso por parte dos educadores muita reflexão sobre sua postura perante os alunos, atentando para uma abordagem de troca de conhecimentos, considerando que o aluno já traz consigo muitos saberes e os mesmos não podem ser simplesmente apagados.

 

 

“O educador precisa rever seus padrões de relacionamento, conscientizar-se de que, provavelmente, aquilo que aprendeu como forma de relação terá que ser desaprendido. É preciso aprender a dialogar”. (PEREIRA & HANNAS, 2000, p.141)

 

Verificamos, pois, que dialogar é necessário, para que o objeto da nossa busca - uma aprendizagem integradora - seja concreto, e sendo assim, deve ser este o contexto da educação para a cidadania: recíproca colaboração, respeito e amor a si e ao próximo.

 

UMA NOVA RELAÇÃO ENTRE PROFESSOR-ALUNO

Como vimos anteriormente a educação contemporânea requer medidas integrantes às novas práticas pedagógicas, adequadas aos novos rumos que a educação vem tomando. Isso desperta para uma revisão da prática docente e a necessidade do professor romper com paradigmas tradicionais, acadêmicos, enciclopedistas, especialistas, nos quais eles são rotulados como “os donos da verdade”, subjugando o aluno à posição de mero coadjuvante. Saviani (1991, p.18), referindo-se à relação professor e aluno, na escola tradicional, mostra-nos que o professor: “transmite, segundo uma gradação lógica, o acervo cultural aos alunos. A estes cabe assimilar os conhecimentos que lhe são transmitidos”.

Hoje, vê-se a necessidade de uma abordagem integradora entre professor e aluno, uma vez que tal ocorrência contribui de maneira significativa para a construção do conhecimento. Ainda, tendo em vista a função do professor, que é ser educador, deve ele estimular o interesse do aluno para o processo de aprendizagem, através de uma interação cujo alcance se dá a partir de uma relação de cumplicidade em sala de aula, onde professor e aluno de forma construtiva estabelecem uma relação de troca, aprendizagem e respeito.

 

 

“As qualidades do professor (facilitador) podem ser sintetizadas em autenticidade, compreensão empática – compreensão da conduta do outro a partir do referencial desse outro – e o apreço (aceitação e confiança em relação ao aluno)”. (MIZUKAMI, 1996, p.53)

 

 

Desse modo, o professor como facilitador da aprendizagem, aberto às novas situações, busca compreender através de uma relação de empatia, também os sentimentos e os problemas que envolvem seus alunos e muitas vezes atrapalham o progresso educacional. Esta interação entre professor e aluno tende a provocar uma sequência de relações cujo resultado final direciona para a qualidade do relacionamento interpessoal.

O professor, numa postura de mediador, deixa de ser o detentor do saber rompendo o distanciamento que tal postura requer, passando então o mesmo a uma atitude de permuta de conhecimentos.

Na abordagem sócio-cultural, Mizukami (1986, p.99), afirma que “a relação entre o mestre e o aprendiz é horizontal, professor e aluno aprendem juntos em atividades diárias. Neste processo, o professor deverá estar engajado em um trabalho transformador procurando levar o aluno à consciência, desmistificando a ideologia dominante, valorizando a linguagem e a cultura”.

Nesta situação, o diálogo marca a participação dos educandos juntamente com seus professores, passando desse modo a fazer parte do processo de aprendizagem.

Conforme D´Oliveira (1987, p. 3) ao analisar a relação professor e aluno, mostra-nos que esta pode ser caracterizada em três níveis:

 

 

“o dos valores presentes na relação, transmitidos através das idéias verbalizadas em sala de aula e refletidas nas ações e nos objetivos de trabalho; o dos modelos dados, ou seja, do que se faz e que é dado como exemplo, que pode ou não ser imitado, e o da interação propriamente dita: das reações das pessoas ao que o outro faz”.

 

 

Uma boa relação entre professor e aluno é fundamental, de modo que a predileção do estudante por alguma disciplina, passa, muitas vezes, pelo gostar ou não de determinado professor. Além disso, a interação entre ambos também contribui para a adaptação do aluno no tocante ao processo de ensino-aprendizagem.

Assim, para Hillal (1985, p. 19) “o primeiro professor de uma criança tem muita importância na atitude futura desse educando, não só durante a sua fase de aprendizagem, mas na sua relação com os sucessivos professores”.

O modo como o professor trabalha em sala de aula, seu relacionamento com os alunos é caracterizado pela forma de relação que ele tem com a sociedade e com a cultura, e de acordo com Abreu & Masetto (1990, p. 115)

 

“é o modo de agir do professor em sala de aula, mais do que suas características de personalidade que colabora para uma adequada aprendizagem dos alunos. O modo de agir do professor em sala de aula fundamenta-se numa determinada concepção do papel do professor, que por sua vez reflete valores e padrões da sociedade”.

 

Dessa forma, torna-se o professor para o aluno parâmetro e este busca naquele as referências e valores que nem sempre possuem. O professor nessa situação passa a ter com o aluno uma relação mais próxima, isso o intima a um comportamento diferente daquele que nossos professores tiveram em outras épocas. Para essa transformação ocorrer, a atual escola precisa de práticas dinâmicas que possam, verdadeiramente, imbuir nossos aprendizes de coragem e determinismo, a fim de que eles compreendam seu papel dentro de uma sociedade.

A escola, o professor, o aluno e todos envolvidos no processo educacional, não podem permitir que o espaço escolar seja rotulado como um ambiente “pesado” no qual estão apenas para cumprir determinada obrigação. É indispensável, nesse ambiente, uma porção bem generosa de alegria e prazer, para viabilizar uma aprendizagem ímpar, emancipadora, potencializando os recursos pedagógicos.

Por isso, para se estabelecer essa integração entre professor e aluno é primordial haver um clima, estabelecido pelo educador, de empatia com seus alunos, devendo o mesmo ter a capacidade de ouvi-los. Dessa forma, os alunos compreenderão que a escola é um lugar acolhedor com a qual eles podem contar.

Segundo Perrenuod & Thurler (2002, p. 161) “Somos educadores, pessoas que escolheram atuar profissionalmente em uma área que possui responsabilidade real para com o desenvolvimento de nossas crianças e, portanto, de nossa cultura e sociedade”.

Não podemos fugir a nossa responsabilidade de promover a educação na sua essência, menos ainda julgá-la instituição falida. “Precisamos de educadores-líderes encantados e enfeitiçados pelo amor e pela compreensão...” (Pereira & Hannas, 2000, p.170).

É, pois, imprescindível uma relação entre mestres e discípulos que funcione como mola propulsora, a fim de que haja, verdadeiramente, uma aprendizagem significativa, inerente ao mundo contemporâneo, sendo esta respaldada no diálogo e na compreensão, com a finalidade de promover a edificação da cidadania.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

Abreu, Maria C. & Masetto, M. T. O professor universitário em aula. São Paulo: MG Editores Associados, 1990.

Alarcão, Isabel. Professores Reflexivos em uma Escola Reflexiva, 2ª edição, São Paulo; Cortez, 2003.

Aquino, J. R. G. A desordem na relação professor-aluno: indisciplina, moralidade e conhecimento. In. J.R.G. Aquino (Org) Indisciplina na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus editorial, 1996.

D´Oliveira, M. H. Analisando a Relação Professor – Aluno: do Planejamento à sala de aula. São Paulo: CLR Balieiro, 1987.

Freire, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 37ª edição, 1996 (coleção leitura).

Hernann, Nadja. Pluralidade e Ética em Educação. Rio de Janeiro: DPZA Editora, 2001.

Hillal, Josephina. Relação Professor – Aluno: Formação do homem consciente. São Paulo, Ed. Paulinas, 2ª edição, 1995.

Imbérnon, Francisco. Formação docente profissional: formar-se para a mudança e a incerteza. 4ª edição, São Paulo: Cortez, 2001.

Mizukami, Maira. G. N. Ensino: As abordagens do Processo. São Paulo: EPU, 1986.

Pereira, Iêda. Lúcia Lima & Hannas, Maria Lúcia. Nova Prática Pedagógica: propostas para uma nova abordagem curricular. São Paulo: Editora Gente, 2000.

Perrenoud, Philippe. A competência para ensinar no século XXI: a formação dos professores e o desafio da avaliação / Philippe Perrenoud, Monica Gather Thurler, Lino de Macedo, Nilson José Machado e Cristina Dias Allessandrini; trad. Claúdia Schiling e Fátima Murad. _ Porto Alegre: Artmed Editora, 2002.

Saviani, Derveval. _ Escola e Democracia. São Paulo: Cortez Editora, 25ª edição, 1991.

Snyders, Georges. Alunos felizes: reflexão sobre a alegria na escola a partir de textos literários; tradução Cátia Aida P. da Silva. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 3ª edição, 1993.