Pesquisa Biográfica - Entrevista narrativa autobiográfica

Na pesquisa biográfica no campo das Ciências Sociais e que recentemente vem sendo cada vez mais apropriada no campo da Educação , é a "entrevista narrativa", desenvolvida na Alemanha pelo pesquisador Fritz Schütze (1983) que consiste em examinar a produção de toda uma história de vida ou somente um determinado ciclo temporal relacionado ao conteúdo de uma biografia. P.ex., a fim de analisar o impacto cognitivo e emocional de uma criança, a entrevista, mediante uma estratégia de análise adequada, pode enfocar o período de sua vida em que a mudança de ambiente escolar foi necessária, seja porque os pais se mudaram para outra cidade, seja por questões sócio-econômicas, inadpatação do aluno com o estilo da instituição ou descontentamento dos pais sobre a filosofia da escola propugnada pelo corpo diretivo, coordenadores e professores. 
 
Normalmente, no pensamento sociológico, na busca de uma verificação teórica  predomina o interesse pelo ciclo de vida de grupos etários de uma dada sociedade (coortes) e de grupos de pessoas (agregados sociais) com determinadas características sociais (por exemplo: mulheres dsa classes populares). Essa concepção, no entanto, não apreende o que o portador individual da biografia experimenta como seu destino pessoal, e não se pode afirmar que tudo o que esteja relacionado com o destino pessoal seja irrelevante para a teoria sociológica.
 
A Revista Acadêmica Online, ao abrir a possibilidade de ascender e dissiminar a entrevista acadêmica (técnica da narrativa autobiográfica é uma de suas modalidades), está de acordo com a tese de que é mister questionar-se pelas estruturas processuais dos cursos da vida individuais, partindo do pressuposto de que existem formas elementares que, em princípio (mesmo apresentando somente alguns vestígioss), podem ser encontrados em muitas biografias.Outrossim, existem combinações sistemáticas dessas estruturas processuais elementares que, enquanto tipos de destino pessoais possuem relevância social. Esse procedimento porém, não é apenas um meio de coleta de dados, mas uma forma de análise que vem ganhando abrangência social e reputação científica, por ser um modo de identificar estruturas processuais e traços inconscientes geradores de ação, por detrás do relato do biografado.
 
As categorias teóricas, com as quais as estruturas processuais dos cursos de vida podem ser descritas, existem em parte na pesquisa biográfica no campo das Ciências Sociais, pelo fato de a mesma estar largamente orientada para as macroestruturas.
 
Conceitos como "ciclo de vida" e "ciclo familiar" são termos comuns que não têm qualquer outra função a não ser a de pontos de medida para definir o contínuo temporal do envelhecimento de coortes que interessam sociologicamente. São pontos de medida que se referem às fases e transações no curso da vida, sobre os quais pode-se supor, do ponto de vista teórico-sociológic émdeo, que são relevantes para a condução da vida, e, por outro lado, sobre os quais não se pode dizer com certeza como eles de fato ocorrem, como adquirem sua relevância biográfica e como estão incorporados no curso da vida como um todo do respectivo portador da biografia.
 
Para definir de modo mais específico o interesse acadêmico de nosso periódico, é relevante traçar uma delimitação: Tal como acontece no campo da História, existe a macrohistória, segmento que estuda os grandes movimentos políticos, sistemas de governo, revoluções etc. a procura de uma montagem ou encadeamento lógico de seus eventos, realizando, por vezes, diagnósticos e prognósticos panorâmicos; esta forma de observação ignora fatores "menores", mais próximos do elo que reúne os inidivíduos ou os aparta, mas de qualquer modo, são microestruturas dinâmicas que de modo não perceptível pela macrohistória, mobilizam os acontecimentos sociais. Para além da  mudança metodológica,o historiador interessado em examinar estes aspectos, terá que mudar sua escala de observação, e passa a se aproximar da microhistória.
 
Tratamento semelhante a esse daremos com nossas entrevistas narrativas autobiográficas. O enfoque não é o paradigma sociológico macroteórico das estruturas sociais, mas sim as microestruturas sociais, que dependerão de intepretações de modelos de análise próprios da Biografia. Esses modelos e interpretações dos portadores da biografia somente nos interessam no contexto da reconstrução da história de vida e não para além dele.
 
Como um autêntico método educional de investigação, a pesquisa biográfica, conduzida pelo pesquisador, pode progressivamente se aproximar da experiência humana do portador do autor biografado, auxiliando-o a revelar certos vínculos, aspectos, e processos elementos que não poderiam ser explicados por quem está envolvido diretamente na situação; outrossim, o pesquisador também se tornará ciente de sua própria visão e juízos de valor, ao ser confrontado com contextos culturais e sociais, comunicação e estilos de vida distintos do seu.
 

Ressaltamos, por fim, que os procedimentos que constituem a Pesquisa Biográfica, no entremeio das razões apresentadas, são ancorados de um pano de fundo teórico-metodológico, o que a eleva da condição de mera técnica, para método de investigação científica validado em Ciência Social; Justamente, por detrás da técnicas que extraem do biografado (no caso a entrevista) os processos discursos que constroem os significados e interpretação, estes são metodologicamente reconhecidos e analisados à luz de um modelo teórico,  bem assim, relacionados a uma tradição histórica.  

 
Fonte de consulta: 
 

WELLER, W.; PFAFF, N. (Orgs.). Metodologias da pesquisa qualitativa em Educação: teoria e prática. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2011.

 
 
 

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