Resumo: Fiódor Dostoiévski - Diário de um Escritor (1873): meia cara de um sujeito

Resumo: Fiódor Dostoiévski - Diário de um Escritor (1873): meia cara de um sujeito

Diário de um Escritor era um título de uma coluna assinada por Dostoiévski na revista de política e literatura O cidadão, e que a partir de 1876, passou a ser publicada como uma nova revista. A publicação integral do Diário reúne mais de mil páginas, com ensaios, críticas aos acontecimentos da época, aos colegas literatos, contos e crônicas.

Dostoiévski teria liberdade em comentar os fatos correntes e expressar, em diversas formas literárias, suas reações aos problemas morais, sociais, religiosos e filosóficos mais profundos que esses fatos suscitavam.

O crítico literário Mikhail Bakhtin, que atribui grande importância ao papel do diálogo nos romances de Dostoiévski, comentou igualmente este aspecto de seu estilo. Sua maneira de desenvolver um pensamento é a mesma em todo lugar: desenvolve-o na forma de diálogo, não um diálogo lógico e seco, mas justapõe todas as vozes, totalmente indivuais; em  seus artigos polêmicos, na verdade não persuade, mas, antes, organiza as vozes, conjuga orientações semânticas com alguma forma de diálogo estudado.

O autor anima seus artigos como uso constante de material autobiográfico, com breves evocações de um fato ou encontro pessoal. Assim, o diário contém um fluxo contínuo de histórias e lembranças relativas a grandes nomes como Aleksandr Herzen, Nikolai Leskov, Vissárion Belínski, Nikolai Tchernichévsk, homens do mundo literário e político que Dostoiévski conheceu pessoalmente e que coloca em suas páginas para representar diversos tipos da intelectualidade russa.

O Diário continua sendo uma das principais fontes de informação sobre o próprio romancista, embora, deva ser usado com cautela, pois além dos lapsos de memória que se tornaram cada vez mais frequentes, os fatos de sua coluna se referem ao contexto ideológico particular em que estava imerso na década de 1870.

O livro traz páginas reveladoras da biografia e do processo criativo de Dostoiévski, assim com ensaios, que posteriormente se tornaram obras expressivas, como os Irmãos Karamázov. Reúne também escrito publicado em revistas literárias em que comenta os temas políticos e estéticos de seu tempo.

Suas posições parecem muito apaixonadas e reacionárias, pois o vemos defender uma incerta moral na relação servo-senhor e flertar com clichês anti-semitas, também constatamos sua sensibilidade para causas sociais como o investimento público em educação  boa remuneração para os trabalhadores.

Essas passagens polêmicas, porém, não são o principal motivo de interesse, pois Dostoiévski se interessa por algumas particularidades que escapam ao entendimento comum da história.

O diário reúne crônicas de diferentes épocas, sendo que a mais antiga a de 1861. A parte principal foi escrita entre 1876 e 1877, período em que as conspirações e atentados revolucionários se tornavam cada vez mais frequentes na Rússia czarista que, neste momento,travava guerra contra a Turquia, para libertar os povos eslavos dos Balcãs do jugo turco.   No entanto, os acontecimentos políticos ocupam menos espaço em seu diário do que os grandes processos da época. Dedica espaço, também, à temas já abordados em suas outras obras, como "Crime e Castigo" e "Os Demônios":os motivos psicológicos subjacentes à ação criminosa, os suicídios, as tentações sinistras, a miséria, o alcoolismo, o patriotismo, entre outros temas. 

Há algumas páginas dedicas aos seus rivais como Turgueniev, Tolstói e Leskov, além de artistas mais antigos que admirava, como George Sand e Puchkin