Desmistificando Olhares para o Mundo da Dança

Desmistificando Olhares para o Mundo da Dança

 

 

THE GRENDAL COLLEGE AND UNIVERSITY

PROGRAMA DE MESTRADO INTERNACIONAL EM CIÊNCIAS

DA EDUCAÇÃO

 

 

 

SIMONE SANTANA

 

 

 

DESMISTIFICANDO OLHARES PARA O MUNDO DA DANÇA

 

 

 

 

Artigo Científico apresentado como requisito parcial do Programa Mestrado Internacional em Ciências da Educação, pela The Grendal College and University.

 

 

                                         São Paulo – SP

                                              2016

 

 

 

RESUMO: Este trabalho tem como objetivo principal, a busca de informações sobre a importância do trabalho de artes em sala de aula, deixando o “velho” paradigma que artes é só passa tempo.  Por acreditarmos no ser humano, é que percebemos, nos caminhos trilhados pela dança, uma forma de aprimorarmos as nossas aulas. Motivar os meus alunos a desmistificarem olhares estereotipados será o meu objetivo, pois aprendi que, para ensiná-los a se movimentar e a se expressar, não é necessário ser uma bailarina. Por isso, nós professores de Artes, precisamos despertar o interesse dos nossos alunos para as aulas de dança na esperança de que, através dessas aulas, eles possam ser cidadãos melhores e transformadores da sua própria realidade. Este trabalho foi elaborado de forma descritiva, a partir de material já publicado, através de leituras de artigos, livros e sites, seguindo o pensamento de LAKATOS( 2007).

 

Palavras Chave: Dança – alunos – aula- motivação-comportamentos – empatia.


INTRODUÇÃO

 O tema em questão, originou-se, através da busca de solução diante das problemáticas sociais, encontradas no decorrer do convívio com alunos, a questão social de convivência foi o primordial para esta pesquisa. A questão norteadora foi a pergunta: Como melhorar o aspecto social dos meus alunos através das aulas de artes? Procurar entender os meus alunos do Ensino médio, pois foi no convívio com esses estudantes e, diante de uma problemática social que presenciei durante o desenvolvimento das aulas, que percebi que possuem grandes dificuldades de relacionamento entre eles.

Essa problemática social diz respeito ao fato de o espaço da sala de aula (que, teoricamente, deveria ser um espaço de aprendizagem interativa), tornar-se um lugar de lutas e desentendimentos verbais e corporais, onde o que prevalece é a presença da força e da violência em todos os aspectos.

Não existe diálogo; o que existe são variados tipos de grupos defendendo suas idéias, forma inflexível em relação às opiniões alheias; não conseguem, de certa forma, conviver com pessoas de outros grupos, negligenciando fatores inerentes a todos, como: solidariedade, respeito, percepção do outro e diálogo.

Diante desse quadro, percebi na dança contemporânea uma possibilidade de construção de conhecimentos, considerando que a escola também possui responsabilidade no desenvolvimento moral e ético dos alunos.

Conforme Piaget,1930:34, salienta:

A educação moral não constitui uma matéria especial de ensino, mas um aspecto particular da totalidade do sistema, dessa maneira, as crianças e os jovens não devem ter aulas de educação moral, mas vivenciar a moralidade em todos os aspectos e ambientes presentes na escola.

 

A dança ensinada no âmbito escolar não se restringe simplesmente à aquisição de habilidades. Sendo uma experiência corporal, possibilitará aos alunos novas formas de expressão e comunicação, levando-os à descoberta de sua própria linguagem corporal. Essas reflexões poderão resultar na exploração da criatividade de cada aluno, numa relação permanente de socialização de experiências, no qual o professor poderá ser mediador, para que as trocas aconteçam em um processo de interação. Assim, enquanto ensinamos, aprendemos. E os alunos enquanto aprendem, ensinam, pois todos nós estamos inseridos numa cultura com histórias e experiências particulares de vida.

Desse modo, as referências para as atividades citadas no trabalho foram baseadas nas vivências dos seguintes autores: Ivaldo Bertazzo, Rudolf Laban e Isabel Marques juntamente com as aulas práticas do meu curso de Linguagem da Arte.

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          Nessa perspectiva, considero a dança um meio importante para estabelecer relações amigáveis, reconhecendo nela uma área privilegiada para discutir o significado das diferenças individuais e que tem o potencial de desenvolver uma consciência transformadora de conceitos.

 

COMPREENDENDO O MUNDO ATRAVÉS DA DANÇA

 

Através dos meus estudos relacionados ao corpo em movimento, compreendi um leque extenso de informações vivenciais que poderão ser traduzidos no contexto de vida de cada aluno, pois como afirma Ivaldo Bertazzo (1998: 12) “o corpo possui identidade própria”.

Partindo desse pressuposto, é importante entender o aluno em toda a sua complexidade adolescente; nesse sentido, Isabel A. Marques (2010: 123) nos diz que: “os jovens de hoje não são do contra, eles simplesmente estão em outra”. Portanto, entendo que se trata de uma geração em um momento de questionamentos constantes.

Ter a percepção do corpo adolescente em transformação na sala de aula tem sido um grande desafio para muitos professores. A maioria leva para as reflexões aspectos comportamentais como fatores fundamentais para o não aprendizado dos alunos, estabelecendo títulos inadequados, como preguiçosos, apáticos e desinteressados. Além disso, esses professores responsabilizam a família e a mídia pela falta de postura e pelo mau desempenho dos adolescentes na escola.

O que não se percebe é que eles vivem em uma realidade midiatizada pelo mundo das informações rápidas e atrativas, em que predominam as imagens, os aspectos visuais. Algumas escolas, ainda deixam muito a desejar: o uso exclusivo da lousa é uma prática frequente e habitual em todas as formas de transmissão de ensino.

Numa era da informação e da tecnologia, o espaço da escola pública, ainda tenta sobreviver com um modelo conservador em todos os aspectos. Continuam as mesmas carteiras, as filas. Não existe inovação estrutural. A instituição escolar não atende aos anseios desta geração, o que faz aumentar a probabilidade de que haja problemas de relacionamentos, pois na escola não há atrativos.

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Outra questão recorrente é a falta de comunicação entre professor e aluno. A maioria não estabelece uma relação amigável e dialógica. Ainda prevalecem as questões de hierarquia, nas quais o autoritarismo é prioridade. A resposta do aluno é vista como afrontamento e não como início de um diálogo. Marques (2010: 123) afirma que “a maioria dos adultos de hoje aprendeu por meio da cultura do livro”; os adolescentes de hoje são diferentes, visto que aprendem uns com os outros e necessitam das sensações para compreender melhor o mundo, as pessoas que os rodeiam e a eles próprios.

Sendo assim, foram abordados alguns fatores que acabam desencadeando a violência em sala de aula. Não pretendo enfatizar, com isso, que todas as mazelas da educação estão relacionadas à prática do professor. Entretanto, observando alguns comportamentos de vários profissionais, percebemos que se faz necessária uma mudança de pensamentos e ações, pois devemos estar sempre inovando nossos conhecimentos, para assim, acompanhar as novas gerações. Ainda de acordo com os autores que estudei para a elaboração do presente trabalho, temos que encontrar caminhos e conhecer a cultura jovem.

Nesse sentido, é preciso respeitar os adolescentes, percebê-los nos seus movimentos e aceitar o que eles trazem. É preciso estabelecer uma relação dialógica entre todos os envolvidos; é necessário que possam existir entendimentos tanto na forma verbal quanto na gestual. Rudolf Laban (1978: 21), em seus estudos, nos mostra que “o pensamento-mente e o movimento do corpo, são corponectivos, não são indispensáveis a qualquer atuação. ”

A dança criativa, sendo uma experiência corporal, contribui para o aprimoramento do desenvolvimento das potencialidades humanas, favorece o processo de construção do conhecimento. Assim, a aprendizagem acontece na coletividade, mas sem perder de vista as questões da singularidade individual. Nessa relação, trocam-se vivências em que cada um, de certa forma, apresentará a sua história num contexto de expressões e sentimentos numa composição gestual.

O corpo, assim entendido, não está separado da mente, nos faz ver e perceber o mundo através de outros corpos, abrindo horizontes para transformá-lo num lugar mais justo.

 

A comunicação através da dança.

 

A linguagem da dança deve ser percebida como um conteúdo de extrema importância a ser trabalhado no ambiente escolar. Saber que ela tem o seu valor e a sua especificidade se faz necessário e fundamental para o desenvolvimento social e integral do aluno. Laban (1978: 20) nos ensina que “o movimento revela evidentemente muitas coisas diferentes”, isto é, com o corpo adquirimos conhecimento, o corpo cria e propõe momento de libertação dos movimentos mecanizados; por meio dele, é possível encontrar a autossuficiência e suas próprias formas de expressão.

A dança criativa revela alegria e prazer, faz com que o aluno tenha uma relação consigo mesmo, com o outro e explore a imaginação, dando sentido à vida. Entendida assim, ela é expressão do movimento, reflete as questões relacionadas aos sentimentos, aos aspectos da sensibilidade e da criatividade. Marques (2010: 25) afirma que “é por meio de nossos corpos dançando, que os sentimentos cognitivos se integram aos processos mentais e que podemos compreender o mundo de forma diferenciada”.

Desse modo, o aluno necessita de experiências que favoreçam o diálogo do corpo com o próprio corpo e com os outros corpos; que favoreçam a exploração da liberdade de se movimentar. Bertazzo (1998: 15) ressalta que “a autonomia não se presentifica no homem sem uma ação consciente ou de uma consciência na ação. O preço da liberdade é a eterna vigilância”.

Atreladas a essa reflexão, a consciência e a autonomia corporais contribuem com as diferentes formas de construção de pensamentos e expressões, proporcionando uma leitura por meio de outros códigos e não somente através da hegemonia do código verbal; movimentar-se dessa forma criativa, com mais liberdade, promove a autonomia da escolha e de novas ideias.

Cabe, aqui, então, um levantamento prévio para saber o que o aluno traz de conhecimentos sobre dança, o que gosta de dançar. Marques (2010: 125) ressalta que “ouvir as diversas vozes dos alunos faz parte desta prática pedagógica”.

O professor, como mediador, deve conversar com os alunos sobre a concepção de movimento de Laban; deve falar acerca disso e pedir pesquisas sobre o corpo, a expressividade, a forma e o espaço. Dessa forma, o docente pode mostrar que a educação deve ser global e que o uso da dança na sala de aula não visa apenas proporcionar a vivência do corpo e diminuir tensões decorrentes de esforços intelectuais excessivos. Nesse sentido, a dança criativa pode trazer muitas contribuições ao processo de aprendizagem, se integrada com outras disciplinas. Assim, o trabalho com o corpo gera a consciência corporal, o aluno questiona-se e começa a compreender o que se passa ao seu redor.

Para desenvolver a consciência corporal, o aluno necessita de experiências em que possa vivenciar as ações de esforço básicas, isto é, momentos que possibilite o aprimoramento da sua criatividade, despertando nele uma relação concreta com o mundo, experiências que favoreçam a canalização do seu temperamento, explorando os movimentos numa corporeidade plena e consciente. Quando se busca a compreensão do movimento corporal, institui-se a base do autoconhecimento, tornando-a fonte de criação de experiências vivas e significativas. Dessa forma, o aluno aprende a organizar o seu movimento, tem domínio dele e é capaz de se relacionar com o mundo.

 

O CORPO EM MOVIMENTO

 

Foi pensando nas questões das diferenças e nas múltiplas possibilidades de educar através da dança, que preparei um repertório de ações corporais que poderão contribuir para que os alunos tenham entendimento e percepção do próprio corpo e do corpo do outro.

Segundo Bertazzo (1998: 12), é preciso “aprender a saborear, antes de tudo, portanto, devemos provocar uma mudança de qualidade em nossa relação com o movimento”.  

O trabalho de artes, além do aspecto cognitivo, leva o aluno ao desenvolvimento de interação, criação, autoconfiança, compreensão do meio, contextualização de cultura e compreensão da realidade.

STRAZZACAPPA, 2001:01, explica que a dança busca o desenvolvimento da imaginação e criatividade, bem como das capacidades cognitivas, desenvolvendo assim no aluno, todas as capacidades necessárias para sua vida.

FRASER, 1991: 04, nos fala que através da dança conseguimos permitir que o aluno incluso, desenvolva suas habilidades, de forma lúdica e espontânea.

A dança proporciona ao aluno bem-estar, trabalha o corpo e o aspecto psicológico além da motricidade, cooperação e criatividade.

Porém cabe ao educador a busca de inovações, através de pesquisas e planejamento realmente capaz de levar ao aluno ao desenvolvimento pleno, O educador é propulsor de todo processo cognitivo, cabe a ele incentivar o aluno na busca também de novos caminhos.

 

 A aprendizagem é um processo de interação social.

 

A curiosidade e o desejo de aprender conferem à aprendizagem um caráter de aventura e de prazer que estimula a aprendizagem. Quando estudamos por obrigação, dificilmente, aprendemos de modo que repercuta como um bem em nossa existência individual e, muito menos, na coletividade a que pertencemos.

Por isso é tão importante experimentar o mundo para aquém e para além da sala de aula. Como as brincadeiras, os passeios, as conversas aguçam a curiosidade e ampliam o interesse pelo ensino. Como ouvir e contar histórias pode ampliar o universo de experiências e o prazer de ler e narrar. Crianças e jovens que pouco conversam em casa, que são pouco escutados na escola representam grupos que tendem a “receber” o ensino como uma carga que muito lhes pesa e, portanto, não lhes permitem os benefícios tão anunciados da escola.

É importante que os estudantes sejam educados para perguntar, para participar, para tentarem respostas diferentes. Só assim estaremos alimentando o seu desejo não só de compreender os mecanismos com que nossa sociedade foi formada, mas também, ao compreendê-los como uma produção histórica, saber que podemos buscar – com ações conjuntas – tentar modificá-los.

Estes são alguns caminhos para fazer do processo de aprendizagem e ensino escolar um trabalho mais interessante e vivo. BOURCIER, 2001, ainda nos explica que a dança é resultado de um movimento interno, causando modificações no todo do aluno.

As aulas de artes possuem toda a estrutura para desenvolver todos os aspectos citados, cabe ao educador direcionar de forma correta todo processo de aprendizagem, unindo o conteúdo programático a parte social, através do lúdico.

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

É preciso que eu, professora de artes visuais, tenha estreitas ligações com os caminhos que conduzem ao movimento, ou seja, ao ensino da dança na escola e na arte.

A dança é uma atividade completa, que exercita o corpo, a mente e a alma. Esse aprendizado, por meio de métodos construtivos, possibilita uma melhora significativa e transformadora em muitos aspectos, desenvolvendo a cognição do aluno e possibilitando-lhe uma formação global.  A dança não prioriza somente a ação pedagógica, mas também psicológica, harmoniza comportamentos, proporciona o resgate de valores culturais, o prazer da atividade lúdica para o desenvolvimento físico, emocional e intelectual.

Excluir das nossas mentes as fronteiras dos estereótipos da perfeição e perceber que todos os corpos dançam é saber que a dança é necessária na escola, como forma de construção corporal significativa num processo de transformação de uma realidade em que jovens estão envolvidos.

Temos que compartilhar essa ideia, para que a escola produza a cultura do movimento, pois a mente não está separada do corpo. Isso é de importância fundamental na educação, área em que as questões da sensibilidade, da criatividade e da expressividade deveriam ter maior destaque, contribuindo, de maneira investigativa, para a formação de cidadãos críticos, autônomos e conscientes da percepção de si, do respeito por si próprio e pelo outro.

 

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS.

 

BERTAZZO, Ivaldo. Cidadão Corpo: identidade e autonomia do movimento. 4 ed. São Paulo: Summus, 1998.

BOURCIER, P. História da dança no ocidente. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

LABAN, Rudolf. Domínio do movimento. 5ed. São Paulo: Summus, 1978.

MARQUES, Isabel A. Dançando na escola. 5ed. São Paulo: Cortez, 2010.

Parâmetros Curriculares Nacionais: arte/ Ministério da Educação. Secretaria da   Educação do Ensino Médio Ed. – Brasília: A Secretaria, 2001.