Breves Notas do Livro - Deleuze: Uma Filosofia do Acontecimento, de François Zourabichvilli

Breves Notas do Livro - Deleuze: Uma Filosofia do Acontecimento, de François Zourabichvilli

Breves Notas do Livro - Deleuze: Uma Filosofia do Acontecimento, de François Zourabichvilli

Por Giuliano de Méroe

 

Este livro não é um simples comentário sobre Gilles Deleuze, nem tenta dizer o que é a sua Filosofia. Em sua leitura é notável um comprometimento intenso, como num elo entre o autor da obra, o comentador, e o autor comentado, o Filósofo Deleuze.

A obra é um resultado vivo de quem experienciou e viveu um pensamento como agressão, uma violência que subsiste que dirige o pensador a chegar ao pensamento necessário; aprender a pensar o que o pensamento ainda não pensa... esse é pilar central de Zourabichvilli.

O autor aqui foi afetado pelo pensamento deleuziano e opera seu problema com os conceitos criados pelo seu mestre, tais como: Pensamento e seu fora, encontro, signo, falso problema, plano de imanência, diferença e repetição, linhas de fuga...

Todos esses conceitos escampam as categorias formais que dão um significado fixo e entendimento endurecido. Longe disso, eles não buscam a significação ou designação formal de um objeto. Eles são como uma guarida de delineamentos conceituais permeáveis por ocasião dos movimentos que os envolvem. Assim eles servem de guia para o pensamento que foi atacado por um problema que o atinge de fora.

Este é o diferencial dessa Filosofia: Não procura cultivar formas que facilitem o bem estar do pensamento consigo mesmo. Os conceitos só operam por instigação do problema que se lhes impõe e que os liga por vibração intensiva. Deleuze ao trabalhar com conceitos foge da representação e da dialética, para ele o conceito se torna uma criação, tem seu próprio plano, e ‘respiram’ por ocasião da problemática. A Filosofia assim traça plano de imanência ao criar os conceitos.

O que se busca nessa filosofia não são relações de causalidade, mas a de ser afetado por força de um fora. Esse ‘fora’ pode ser um afeto, um regime de signos, uma força que leve o pensamento se tornar ativo, a envolver-se com a criação de conceitos que saltam como acontecimento, que possuem vibração intensiva.

O problema de se chegar a um pensamento necessário é o que move a pesquisa do autor. Para ele, isso só acontece com a necessidade de encontro com o fora, com implicações com aquilo que não se reduz ao exercício de uma reflexão interiorizada, portanto não através de uma faculdade cognitiva.

Por exemplo, algo a mais aconteceu e que não é representável, como uma alegria muito intensa, inesperado, aberrante e que impõe ao pensamento o problema de desvendá-lo. Esse algo a mais, é o encontro com o signo imantado de uma heterogeneidade que não se oferta a uma recognição tranquilizadora.

De acordo com Zourabichvilli, o signo é quando surge outro ponto de vista que coloca o movimento real no pensamento, o pensar se move só com o fora que o afeta e o problema que força o pensamento transmuda-se num pensar.

O que o autor quer demonstrar é o motor abstrato do pensamento. Ele o coloca na articulação do fora (exterioridade, signos) e da implicação (dobra envolvimento-desenvolvimento, complicação virtual). Esse funcionamento é o suficiente para perverter todo o discurso da ontologia clássica, e se livra dos processos de exteriorização a partir de dentro, da tutela do sujeito pensante (neste caso queremos dizer do indivíduo cujo pensar não está em conexão com o fora) e da dialética.

Encontros engendram afetos gerados pelos corpos, como já dizia Spinoza. Assim se pergunta: Como torna-lo incessante? Como atingir o tempo vazio de Aiôn? São sempre novas maneiras de pensar, sentir, perceber e agir... e como conservar esse jorro intermitente? Plotino dizia que a contemplação tem a capacidade de se conectar com as forças reais do objeto e captar suas vibrações intensivas.

 

Referências Bibliográficas

ZOURABICHVILI, François. Deleuze Uma Filosofia do Acontecimento. Tradução e Prefácio de Luiz B.L.Orlandi. São Paulo: Editora34, 2016.