A Formação Continuada dos Profissionais Docentes

A Formação Continuada dos Profissionais Docentes

               A FORMAÇÃO CONTINUADA DOS PROFISSIONAIS DOCENTES

 

                                                                                                        Antônio Edson dos Santos¹

 

RESUMO: O presente artigo tem por objetivo discorrer acerca da formação continuada dos profissionais docentes e sua importância para o processo de ensino-aprendizagem. Para tanto, foram pesquisados referenciais teóricos em livros, artigos e outras produções acadêmicas que tratam do assunto. Procurou-se mostrar o que é a formação continuada para professores, seu processo histórico, como acontece nos tempos atuais e como a educação a distância auxilia nesse processo. Notou-se, com o estudo, que a formação continua dos professores deve ser capaz de conscientizar o docente de que teoria e prática são imprescindíveis para a atuação em sala de aula e que o aprimoramento constante é parte integrante da excelência profissional e do processo de ensino-aprendizagem.

Palavras-Chave: Formação Continuada; Profissional Docente; Ensino-Aprendizagem

ABSTRACT: This article aims to discuss the continuing education of teaching professionals and their importance to the teaching-learning process. For that, theoretical references were searched in books, articles and other academic productions that deal with the subject. It was tried to show what is the continuous formation for teachers, its historical process, as it happens in the present times and how the distance education aids in this process. It was noted with the study that the continuing education of teachers should be able to make the teacher aware of what theory and practice are essential for classroom performance and that constant improvement is an integral part of professional excellence and the process of teaching-learning.

Key words: Continuing Education; Professional Teacher; Teaching-Learning

  1. Formado em História pela UNICID – Universidade Cidade de São Paulo, e em Pedagogia pela FALC – Faculdade Da Aldeia de Carapicuíba, pós-graduado em Docência do Ensino Superior pela UNICID e em Deficiência Intelectual pela FALC. antonioedson@hotmail.com
  2.  

INTRODUÇÃO

 

Esse trabalho propõe-se a questões referentes à formação continuada de profissionais docentes e sua importância para o exercício da prática pedagógica e do processe de ensino-aprendizagem. Para isso, foram pesquisados livros, artigos e demais produções acadêmicas que discorrem sobre o assunto, trazendo suporte teórico para as linhas aqui escritas.

A formação do professor não se finaliza com a conclusão do curso de licenciatura. Ao contrário, de acordo com Ferreira (2016), o processo contínuo de formação possibilita que o docente seja capaz de desenvolver sua autonomia crítica e seu saber reflexivo de uma maneira mais eficaz e construtora. Dessa forma, o autor afirma que é fundamental a participação dos professores em cursos de que ofereçam formação continuada, reciclando seu saber, promovendo sua reflexão e autoavaliação de sua prática em sala de aula, como resultado de um processo em constante construção, já que essa formação interfere, de maneira direta, na perspectiva das práticas pedagógicas, na formação do educador pesquisador e no cotidiano escolar.

Assim, a formação continuada de professores deve se constituir num processo permanente de aperfeiçoamento dos saberes necessários à prática docente, realizado ao longo de toda vida profissional, assegurando uma ação efetiva do educador, para que haja, de fato, aprendizagens significativas.

Tal necessidade é algo que sempre existiu, uma vez que a ação docente é algo complexo, que depende da eficiência da relação interpessoal e de processos subjetivos, como a capacidade de reter a atenção do aluno, criando nele o interesse pelo que está sendo ensinado.

Mudanças de paradigmas que vêm acontecendo nas últimas décadas intensificou essa necessidade de formação continuada, como uma maneira de garantir a eficácia do processo de ensino-aprendizagem. Tal formação do profissional docente tornou-se, praticamente, obrigatoriedade, pois vive-se num mundo onde é preciso saber com gerações interativas, conectadas, com rápido acesso à informação, totalmente tecnológicas.

Tudo isso mostra que a formação continuada dos profissionais da educação, em especial aquele que lida diretamente com o aluno, em sala de aula, se constitui numa necessidade crescente. Em virtude disso, esse artigo abordará questões pertinentes a essa temática, buscando contribuir para a reflexão acerca do tema.

 

A FORMAÇÃO CONTINUADA DOCENTE

 

A concepção de formação de docentes, nas palavras de Ferreira (2016), influencia deveras na postura que os educadores adotarão como referência à sua prática em sala de aula. Assim, no processo de educação continuada acontece da mesma forma, uma vez que o êxito da proposta dependerá, em grande parte, da clareza do conhecimento dos professores acerca de tal assunto.

 

A formação deve ser transformadora da compreensão dos fenômenos educativos, das atitudes do professor, devendo se considerar também os procedimentos pelos quais os educadores se apropriam e constroem seus conhecimentos. O professor no atual contexto deve ir muito além do seu curso de formação inicial, que é insuficiente diante a demanda que a sociedade vem impondo. De fato, não é mais possível ministrar aulas somente com o que foi aprendido na graduação (FERREIRA, 2016, p.10).

 

É necessário, portanto, pensar que trabalhar sozinho, sem trocar experiências com os colegas de profissão, ou pensar que os recursos tecnológicos, na verdade, devem ser ferramentas utilizadas apenas por especialistas, ignorando as didáticas de cada área, são situações que apenas dificultam o processo de ensino-aprendizagem (FERREIRA, 2016).

Cabe ressaltar, aqui, as grandes transformações que a sociedade vem sofrendo ao longo do tempo. Dentre elas, pode-se citar a quantidade de informações que são disponibilizadas a nós cotidianamente, com uma propagação extremamente rápida. Dessa forma, vivenciamos um momento histórico em que a informação e o conhecimento constituem-se em requisitos indispensáveis para a vida profissional. Esclarecendo que os termos informação e conhecimento, embora sejam afins semanticamente, não possuem o mesmo significado. Pode-se dizer que informação se refere a tudo aquilo que é disponibilizado às pessoas. Porém, a informação só se converte em conhecimento quando lhe é atribuído sentido (CHIMENTÃO, 2009).

Pescuma (2005), nas palavras de Chimentão (2009), exemplifica a diferença entre informação e conhecimento, afirmando que o objetivo da pesquisa científica é buscar, selecionar, ordenar, elaborar e sistematizar uma série de informações, transformando-a em conhecimento.

Seguindo nessa linha, a autora acima citada assegura que a escola continua a ter um papel fundamental para o desenvolvimento do ser humano. Cabe aos bancos escolares possibilitar a construção do conhecimento, uma vez que o que há nos livros e na internet, por exemplo, são informações. Porém, nota-se que a escola pouco mudou. A educação reprodutivista, ou seja, a simples transmissão de informações, ainda se encontra presente na maioria das unidades escolares, mas já não deveria fazer mais sentido no mundo atual.

Nesse caso,

 

[...] urge que a escola mude, que rompa com velhos paradigmas, que se enquadre na atualidade. E, para que isso seja possível, é necessária uma mudança de pensamento sobre a escola, é necessário que acreditemos na possibilidade de encontrar caminhos melhores e mais adequados para os problemas vivenciados no momento. O envolvimento de todos aqueles que fazem parte da escola é imprescindível, pois a escola se faz da interação entre alunos, professores, equipe pedagógica, pais e colaboradores. Todos, sem exceção, precisam reavaliar seus conceitos, suas crenças e sua prática (incluindo seus sucessos e fracassos) para irem em busca de renovação (CHIMENTÃO, 2009, p.02).

 

Ademais, para a autora, recaem sobre o professor em serviço algumas novas exigências. Mais do que nunca, o docente deve estar sempre atualizado e bem informado, não apenas em relação aos fatos e acontecimentos do mundo, mas, principalmente, no que tange aos conhecimentos pedagógicos e às novas tendências educacionais.

 

HISTÓRIA DA FORMAÇÃO CONTINUADA NO BRASIL

 

Para a compreensão da formação continuada, é preciso lançar um olhar à história da educação no Brasil, realizando uma análise de sua trajetória, promovendo uma reflexão acerca dos aspectos que fundamentaram a atividade docente, de acordo com Branco (2016).

A autora diz que as primeiras menções de formação docente são datadas do século passado. Segundo ela, antes que se fundassem escolas especificamente destinadas à formação docente, encontra-se nas primeiras escolas de ensino mútuo, que foram instaladas a partir de 1820, a preocupação de não somente ensinar as primeiras letras, mas a de preparar professores, ensinando-lhes o domínio do método.

Após a Revolução Francesa, ainda nas palavras de Branco (2016), os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade trazem como princípio a educação para as massas e, consequentemente, os primeiros cursos de formação docente nas chamadas “escolas normais”, cujas trajetórias constituíram-se frágeis até a obrigatoriedade da instrução primária, no ano de 1870.

A partir do século XIX, é incorporada a cultura escrita à vida social, presente em contratos, documentos, assinaturas.

 

[...] o acesso à escola passa a ser considerado como um direito de todo cidadão e, como tal, um dever do Estado. O cumprimento desse dever assume, no final do século XIX, a forma da organização dos sistemas nacionais de ensino, entendidos como amplas redes de escolas articuladas vertical e horizontalmente tendo como função garantir a toda a população dos respectivos países o acesso à cultura letrada traduzido na erradicação do analfabetismo através da universalização da escola primária considerada, por isso mesmo, de frequência obrigatória [...] Foi somente após a Revolução de 1930 que a educação no Brasil começou a ser tratada como uma questão nacional dando-se precedência, porém, ao ensino secundário e superior já que foi só em 1946 que viemos a ter uma lei nacional relativa ao ensino primário (Saviani, 2000, p.02 apud BRANCO, 2016, p.03).

 

Quanto ao conteúdo formativo, de acordo com Libâneo (1998 apud Branco, 2016), na década de 60 era possível identificar treinamentos em metodologias e técnicas que visavam desenvolver a consciência do “eu” e dos outros, além de habilidades de relacionamento interpessoal, dinâmica de grupo, sensibilidade para captar as reações individuais e grupais dos alunos, utilizando-se de técnicas de sensibilização do educador para os aspectos afetivos da relação pedagógica entre professor e aluno.

Durante os anos 70, ainda nas palavras do autor, houve muita preocupação dos sistemas educacionais com as habilidades de elaborar planos de ensino, o desenvolvimento de habilidades em técnicas de ensino, instrução programada, recursos audiovisuais, além de técnicas de avaliação.

Nos últimos anos da década de 80, com o fim do período da ditadura militar no Brasil, aconteceram várias reformas educacionais. Nesse contexto, houve a organização de movimentos de educadores de maneira mais consistente, buscando por um projeto de formação docente voltado à melhoria da educação.

 

A Constituição Federal de 1988, (artigo 206, inciso V) resultado da luta por uma “educação básica de qualidade”, estabelece a obrigatoriedade de ingresso no magistério via concurso público e aponta a necessidade de planos de cargos e carreira, com piso salarial profissional, por meio do princípio da valorização dos profissionais do ensino (BRANCO, 2016, p.05).

 

Com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN 9394/96), a formação de professores ganha um capítulo próprio:

 

Art.67- os sistemas de ensino promoverão a valorização dos profissionais de educação, assegurando-lhes: [...] aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive com licenciamento periódico para esse fim; [...] período reservado a estudos, planejamento e avaliação, incluído na carga de trabalho.

[...] a atualização, o aprofundamento dos conhecimentos profissionais e o desenvolvimento da capacidade de reflexão sobre o trabalho educativo deverão ser promovidos a partir de processos de formação continuada que se realizarão na escola onde cada professor trabalha e em ações realizadas pelas Secretarias de Educação e outras instituições formadoras, envolvendo e equipes de uma ou mais escolas (BRASIL, 1999, p.39).

 

Branco (2016) aponta que outras ações promovidas pelo Ministério da Educação do Brasil focaram na formação continuada, tais como: o Pró-Letramento – Mobilização pela qualidade da Educação para professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental e o Programa de Incentivo à Formação continuada de professores do Ensino Médio. Há ainda, segundo a autora, o FundEscola, financiado pelo Banco Mundial, que desenvolve projetos como o PDE – Plano de Desenvolvimento Escolar e o Programa de Apoio à Leitura e Escrita.

Além disso, a autora ressalta que é perceptível o empenho de Secretarias Municipais e Estaduais de Educação para promover ações que resultem em uma formação continuada mais efetiva, com vistas à melhoria da qualidade da educação e a dinamização do processo de ensino-aprendizagem.

            Para a autora,

 

É consenso que, historicamente servindo a interesses da classe dominante, atualmente, a formação inicial dos professores não constitui base suficiente para as demandas da prática educativa. Percebe-se que a escola ao perder sua função social, não necessita que o professor aprofunde seus conhecimentos. Entretanto, mesmo não pretendendo esgotar esta discussão, este artigo revela subsídios para compreendermos a influência das políticas neoliberais na formação docente no Brasil levando-nos à reivindicação de uma formação continuada que possa ser devidamente compreendida e operacionalizada (BRANCO, 2016, p.06).

 

Dessa forma, o domínio do conhecimento e dos aportes teóricos que norteiam as concepções pedagógicas é de fundamental importância para a formação dos profissionais docentes, pois pode sustentar seu trabalho prático, permitindo condições para que modifiquem suas concepções e ações, fugindo de amarras ideológicas, que tentam transmitir apenas um aspecto que convém a que dirige as políticas educacionais.

 

O PROCESSO DE FORMAÇÃO CONTINUADA

 

O processo de formação continuada de docentes não é algo novo. Diversos autores já apresentaram discussões acerca dessa temática, ressaltando sua relevância para os profissionais da educação. Porém, deve-se salientar sua importância, relacionando-a com a necessidade de mudança da escola.

Chimentão (2009) afirma que, de acordo com Shigunov Neto e Maciel (2002), para que as mudanças que acometem a sociedade atual possam ser acompanhadas, faz-se necessário um novo profissional da educação, um profissional saiba valorizar a investigação como estratégia do processo de ensino-aprendizagem, desenvolvendo a reflexão crítica da prática e que esteja sempre preocupado com a formação continuada.

 

A nosso ver, a formação continuada passa a ser um dos pré-requisitos básicos para a transformação do professor, pois é através do estudo, da pesquisa, da reflexão, do constante contato com novas concepções, proporcionado pelos programas de formação continuada, que é possível a mudança. Fica mais difícil de o professor mudar seu modo de pensar o fazer pedagógico se ele não tiver a oportunidade de vivenciar novas experiências, novas pesquisas, novas formas de ver e pensar a escola (CHIMENTÃO, 2009, p03).

 

A formação continuada de professores tem sido entendida como um processo permanente de aperfeiçoamento dos saberes necessários à atividade profissional docente, realizado após a formação inicial, que tem por objetivo assegurar um processo de ensino-aprendizagem de melhor qualidade aos educandos (CHIMENTÃO, 2009).  

Para a autora acima, a formação continuada não deve descartar a necessidade de uma formação inicial de qualidade, no entanto, para aqueles profissionais que já atuam, há pouco ou há muito tempo, ela se faz extremamente relevante, já que o avanço dos conhecimentos, das tecnologias e as novas exigências do meio social e político impõem ao educador e à escola a continuidade, o aperfeiçoamento da formação profissional.

Nas palavras de Nascimento (2000), as propostas de capacitação dos profissionais docentes têm apresentado, até o momento, baixa eficácia, sendo que algumas das razões apontadas estão relacionadas à desvinculação entre teoria e prática, à ênfase excessiva em aspectos normativos, à falta de projetos coletivos e/ou institucionais, entre outros possíveis fatores.

Para a autora, essas deficiências nos programas de formação continuada, por vezes, levam ao desinteresse e a reações de indiferença por parte de professores, porque perceberem que determinadas atividades que prometem ser de formação, quase sempre, não contribuem em nada para seu desenvolvimento profissional. Como consequência, sua realidade do cotidiano de sala de aula também permanece sem nenhuma alteração. Tal sensação de ineficácia dos processos de formação continuada é um sentimento que tem acompanhado muitos educadores.

Para que a formação continuada atinja seu objetivo, precisa ser significativa para o professor, de acordo com Furtado (2006). Pesquisas na área apontam, nas palavras do autor, que as atividades de capacitação docente têm apresentado baixa eficácia porque não apresentam vinculação com a prática, dando muita ênfase a aspectos normativos, não traduzindo projetos coletivos e institucionais.

Essa deficiência nos programas de formação continuada de profissionais docentes, por vezes, leva ao desinteresse e a reações de indiferença por parte dos professores, como já apontado em parágrafo anterior, pois os professores percebem que certas atividades que prometem ser de formação, quase sempre, em nada contribuem para seu desenvolvimento profissional.

Para a autora Candau (1997), há três aspectos que podem ser considerados fundamentais para o processo de formação continuada do profissional docente: a) a escola, como local privilegiado de formação; b) a valorização do saber do professor; c) o ciclo de vida dos educadores. Para ela, a formação continuada precisa partir das necessidades reais do cotidiano escolar do educador, valorizando o saber docente para, finalmente, valorizar e resgatar o saber docente construído na prática pedagógica, ou seja, unir teoria e prática. Em síntese, a relação entre os saberes teóricos e os saberes práticos necessários para uma boa performance e uma boa qualificação é de fundamental importância.

Ainda nessa linha, Furtado (2016) afirma que uma característica crucial de um processo de formação continuada efetivo é contemplar três dimensões da formação do professor: a dimensão científica, a dimensão pedagógica e a dimensão pessoal.

O autor explica essas três dimensões da seguinte maneira:

 

A dimensão científica se ocupa do desenvolvimento e atualização dos conteúdos a serem ensinados e da forma pela qual o ser humano aprende. Os professores precisam estar atualizados com relação ao que ensinam e com relação às descobertas das ciências cognitivas, hoje, bem representadas pelas neurociências. A dimensão pedagógica se ocupa dos métodos, técnicas e recursos de ensino. Um sem fim de possibilidades metodológicas se apresentam aos professores em função do avanço da tecnologia em todas as áreas. A atividade de troca de experiências através de oficinas e workshops mostra-se bastante eficaz na concretização dessa dimensão. Por fim, a formação continuada de professores não pode prescindir da dimensão pessoal através de atividades que permitam profundas reflexões sobre crenças, valores e atitudes que permeiam a ação docente (FURTADO, 2016, p.01).

 

Continuando com as palavras de Furtado (2006), o pesquisador aponta que autores dizem que o segredo do sucesso de um bom programa de formação continuada deve partir das necessidades reais do cotidiano escolar do professor, valorizando seu saber e sua experiência e integrar de forma eficaz, teoria e prática.

É preciso, ainda segundo ele, atentar-se para que o processo de formação não se constitua num simples receituário pedagógico, pronto e acabado. Os processos de formação continuada para professores podem ter imenso valor, caso consigam aproximar os pressupostos teóricos e a prática pedagógica.

A formação continuada deve, portanto, ser capaz de conscientizar o professor de que teoria e prática são dois lados da mesma moeda, como diz o dito popular, que a teoria o ajuda a compreender melhor sua prática, dando-lhe sentido e, em consequência disso, que a prática proporciona melhor entendimento da teoria ou, ainda, aponta a necessidade de nela fundamentar-se.

Com isso, a prática e o ato de refletir sobre essa prática exercida em sala de aula contribuem para o surgimento de uma ressignificação do conceito de professor, de aluno, de aula e de ensino-aprendizagem (OLIVEIRA, 2016).

A autora diz ainda que

 

[...] o educador deve assumir o papel de facilitador e mediador do conhecimento, um participante ativo da aprendizagem dos alunos, proporcionando uma aprendizagem em que o aluno seja sujeito do processo de ensino-aprendizagem. Dessa forma, podemos perceber a importância do professor na sua própria formação e na formação dos educandos. Agindo como mediador, o docente está dando a oportunidade aos alunos a terem autonomia na construção do seu próprio conhecimento como forma de compreender a realidade social em que vivem (OLIVEIRA, 2016, p.01).

 

É preciso, nas palavras dela, que o docente tenha consciência da importância de seu papel social, pois só assim será capaz de ajudar o aluno a compreender a sociedade em que está inserido, além da complexidade do conhecimento que se pretende adquirir, buscando uma aprendizagem voltada para a resolução de problemas que a vida em sociedade irá apresentá-lo. Só assim, é possível dar ao aluno uma “visão crítico-reflexiva das coisas que se apresentarão ao longo da vida. Com isso ele terá a possibilidade de compreender e interpretar os problemas que emergem no cotidiano” (OLIVEIRA, 2016, p.01).

E é através de um processo formativo contínuo, capaz de mobilizar saberes teóricos da educação, que os professores poderão compreender a necessidade de desenvolver competências e habilidades necessárias para a investigação de sua própria atividade.

 

FORMAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA – TENDÊNCIA COMTEMPORÂNEA

 

A modalidade de EaD – Educação a distância, nas palavras de Rodrigues e Capellini (2012) ganha, a cada dia, mais espaço com o reflexo do uso da Tecnologia de Informação e Comunicação – TIC na educação. Tais tecnologias também trazem mudanças significativas nas estratégias do processo de ensino-aprendizagem. Dessa forma, vivencia-se um momento de expansão da EaD, tornando esta modalidade de ensino algo importante para formação de grande número de pessoas em todo o mundo.

            Ainda de acordo com as autoras,

 

[...] para entender a Educação a Distância (EaD) é necessário compreender a educação online que engloba todos os elementos que se referem ao virtual e às formas metodológicas atuais organizadas para a aprendizagem. Quando falamos em educação online estamos nos referindo à educação não presencial mediada por tecnologias digitais. Isso engloba vários elementos como a EaD, os E. B. M. learning(s), entre outros. Pode ser entendida como um conjunto de ações de ensino e aprendizagem que são desenvolvidas através de meios telemáticos como a Internet, a videoconferência e a teleconferência. A educação online nos traz questões pedagógicas específicas com desafios novos para a EaD e a presencial. Para o uso da educação online um dos maiores desafios está na compreensão da diferença do paradigma virtual e do presencial na utilização das interfaces da tecnologia disponíveis para a aula (BARROS, 2008 p.06 apud RODRIGUES e CAPELLINI, 2012, p.01)

 

A EaD, segundo as autoras, é aplicação de uma metodologia antiga, que ocorreu no início da difusão do Cristianismo, onde o apóstolo Paulo utilizava métodos de a distância, pois remetia cartas às igrejas com finalidade de ensiná-las sobre o novo pensamento que propagava. Essa modalidade de ensino também pode ser verificada no século XIX, através do advento das estradas de ferro nos Estados Unidos, o que facilitou o transporte dos materiais pedagógicos por meio de comboios. Claro que não havia as tecnologias que dispomos hoje, mas a intenção e a modalidade são as mesmas.

Para Barros (2008 apud Rodrigues e Capellini, 2012, p.01):

 

[...] O desenvolvimento da comunicação educativa apresenta-se com o início da escrita; esta comunicação tinha enquanto objetivo propiciar aprendizagem às pessoas ausentes em determinado espaço e tempo. Percorrendo os caminhos da história, observamos que na Mesopotâmia, no Egito e na Índia, na Grécia e em Roma, já se encontrava uma rede de comunicação escrita que permitiu um significativo desenvolvimento da correspondência. Inicialmente, as cartas eram registros de problemas e fatos do cotidiano pessoal e coletivo; aos poucos, passaram a transmitir informações científicas que, de forma intencional ou não, destinaram-se à instrução e ao conhecimento de algo.

           

Entre outras maneiras de comunicação, a Educação a Distância acontece de diversas formas: livro impresso, correio, rádio, televisão, internet. De acordo com Vilela (2006, p.05 apud Rodrigues e Capellini, 2012), alguns autores identificam quatro gerações de EaD:

·         Primeira geração (1850-1960): os estudos eram realizados através de materiais impressos, que eram remetidos por correspondência, sendo que, posteriormente, surgiram o rádio e a televisão.

·         Segunda geração (1960-1985): ademais dos materiais impressos, utilizava-se, também, transmissões via televisão aberta, rádio, fitas de áudio e vídeo, com interações que aconteciam por telefone, fax, satélite e TV a cabo.

·         Terceira geração (1985-1995): já nesse período a base aconteceu por meio de redes de computadores, videoconferências, estações de trabalho multimídia e o início da utilização da internet.

·         Quarta geração (1995 até os dias atuais): são utilizados como meios de comunicação o correio eletrônico, o chat, internet de banda larga, interação por vídeo e ao vivo, videoconferência, fax, papel impresso. Os computadores ganham importância fundamental e papel crucial na vida das pessoas.

As autoras Rodrigues e Capellini (2012) afirmam que na modalidade EaD, a internet contribui para o acesso e a efetivação do curso, tanto no processo de ensino-aprendizagem, como na organização administrativa, uma vez que se trata do ambiente em que se organiza e se estrutura o material do curso, além da participação dos alunos e formadores.

No Brasil dos dias atuais, ainda segundo as autoras, o número de oferta de cursos a distância cresceu significativamente, procurando atender à formação continuada do professor em exercício, além das transformações na educação. Entra, então, em cena, um conceito importante, que é o de educação contínua ou continuada, que acontece no processo de formação constante, onde se aprende sempre, se aprende em serviço, aproximando teoria e prática, numa reflexão acerca da própria experiência, ampliando-a com novas informações e relações (MORAN, 2002 apud RODRIGUES e CAPELLINI, 2012).

Tal conceito traz a caracterização da educação continuada do profissional docente como uma prática que favorece o repensar de sua atuação em sala de aula, colocando-o numa condição de aprendizagem para as mudanças atuais no contexto educacional.

 

Outro ponto de destaque é a comunicação síncrona (em tempo real) – o Bate-Papo. Trata-se de um dos recursos mais utilizados em EaD, pois abrange conferências baseadas em textos. Segundo Rodrigues (2004), o estímulo de contatar com outros em tempo real e o desenvolvimento de um sentido de presença e pertença social promovem o envolvimento e o comprometimento, fundamentais para a formação de uma autêntica comunidade entre os participantes de um curso em regime de e-learning (Ensino Online). Esta ferramenta é muito útil na sala de aula virtual, fortalecendo a criação da comunidade, promovendo a sensação de estar com o outro, mesmo com grande distância geográfica, mas – para uso dessa ferramenta – Pallott e Pratt (2002) ressaltam que não se deve deixar de levar em consideração os seguintes fatores: a) trabalho preferencial com grupos pequenos (ideal cinco a dez); b) cuidados com o fuso horário; c) determinação prévia das diretrizes do curso, possibilitando igual espaço para os participantes se manifestarem (RODRIGUES e CAPELLINI, 2012, p.01).

 

As autoras seguem dizendo que, no cenário atual da educação, fica evidente que a educação através de novas mídias é uma realidade que se faz cada vez mais presente, evoluindo de forma irreversível. Ademais, em virtude do processo de inclusão escolar, é imprescindível a formação continuada do profissional docente, uma vez que muitos que hoje exercem a docência, não tiveram esses conteúdos e práticas durante sua formação.

É importante destacar, também, segundo elas, a imensa extensão de nosso território nacional, cujo maior volume de pesquisadores acerca da Educação e suas tecnologias encontra-se no eixo sul-sudeste, o que dificulta o acesso a cursos locais por esses especialistas.

A Lei de Diretrizes e Bases (LDBEN) n.9394/96 (Brasil, 1999) estabelece no artigo 80:

 

O Poder Público incentivará o desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino a distância, em todos os níveis e modalidades de ensino, e de educação continuada. 

§ 1º A educação a distância, organizada com abertura e regime especiais, será oferecida por instituições especificamente credenciadas pela União. 
§ 2º A União regulamentará os requisitos para a realização de exames e registro de diplomas relativos a cursos de educação a distância. 
§ 3º As normas para produção, controle e avaliação de programas de educação a distância e a autorização para sua implementação, caberão aos respectivos sistemas de ensino, podendo haver cooperação e integração entre os diferentes sistemas. 

§ 4º A educação a distância gozará de tratamento diferenciado, que incluirá: 
I - custos de transmissão reduzidos em canais comerciais de radiodifusão sonora e de sons e imagens; 

II - concessão de canais com finalidades exclusivamente educativas; 
III - reserva de tempo mínimo, sem ônus para o Poder Público, pelos concessionários de canais comerciais.

 

Assim, vemos que a lei que traz as diretrizes máximas da educação brasileira caracteriza a Educação a Distância como modalidade de ensino, tornando explícitas demais disposições e providências, considerando a mediação didático-pedagógica no processo de ensino-aprendizagem com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação.

Além disso, a formação continuada de professores na modalidade a distância mobiliza uma série de saberes e conhecimentos, em especial, quando se busca novas estratégias, novos elementos e novos processos educativos mediados pelas tecnologias de informação e comunicação (ORTH et al.).

Os autores ainda dizem que é imprescindível ao docente de hoje saber desenvolver uma série de novas habilidades e/ou competências para educar em uma sociedade informatizada. Entre essas aptidões necessárias destaca-se a possibilidade de tanto aluno quanto professor terem acesso à informação, saberem utilizar a internet em busca de informações relevantes, sabendo depurá-las e/ou selecioná-las.

Também asseguram os autores que é necessário aos professores saber analisar e interpretar a informação, reconstruindo diferentes informações com base nos objetivos propostos para determinado conteúdo e/ou aprendizagem, sabendo comunicar a informação produzida. Tais saberes e/ou conhecimentos devem “ser planejados, concebidos, especificados e determinados, de acordo com a concepção e os objetivos de cada curso, auxiliados pela tecnologia e todos os seus processos de produção e uso” (ORTH et al., 2013, p.47).

 

Essas novas habilidades precisam ser trabalhadas com os professores que, por sua vez, necessitam realizar experiências e ou aprendizagens significativas na integração dos recursos tecnológicos, para só então se sentirem aptos para incluir as mesmas na própria prática docente. Ou seja, o professor precisa viver profundamente essa nova experiência cultural para que o seu fazer didático-pedagógico passe a ser mediado pelas tecnologias (ORTH et al., 2013, p.47).

           

O bom professor, para os autores, deve ter a necessidade de viver profundamente a experiência cultural de cada aluno, se apropriando sistematicamente dela, bem como dos meios necessários para proporcionar ao outro a mesma experiência e a mesma apropriação cultural, incluindo a cultura informacional, global e em rede.

            Além disso, nos dizeres de Oliveira (2016), o professor deve formar-se de maneira contínua, possuindo a capacidade de refletir acerca de sua prática docente, uma vez que é através do processo reflexivo que irá se tornar um profissional que seja capaz de construir uma identidade profissional. Assim, o educador será capaz de se adaptar às diversas e rápidas mudanças não apenas no campo educacional, mas no mundo em que vive, estando apto a enfrentar as dificuldades encontradas na realidade de sala de aula.

 

CONCLUSÃO

 

Cabe, aqui, reforçar a ideia de que a da articulação entre teoria e prática é essencial quando se diz em formação continuada de professores. Não só a reflexão teórica é suficiente para o encaminhamento adequado de todos os problemas enfrentados no fazer pedagógico, mas é preciso conjugar com a prática de sala de aula, trazendo a realidade do professor e da escola, o que, de fato, interferirá positivamente no processo de ensino-aprendizagem.

A formação continuada deve sempre atender às necessidades do docente em seu dia a dia de sala de aula, mas jamais deve ser vista como uma receita pronta, algo que seja encarado como a solução para todos os problemas. Ao contrário, os processos de formação continuada são de extrema importância, com imenso valor, mas devem conseguir aproximar os pressupostos teóricos e a real prática pedagógica.

Ademais, a formação continuada docente deve ser eficaz no sentido de conscientizar o professor de que teoria e prática são coisas indissociáveis, uma vez que a base teórica ajuda o educador a compreender melhor a sua prática cotidiana, atribuindo-lhe sentido. Em consequência, a prática proporciona melhor compreensão da teoria, revelando a necessidade de nela fundamentar-se. Isso incide diretamente na eficiência do processo de ensino-aprendizagem.

Também se nota a importância de ferramentas tecnológicas para o processo de formação continuada de professores, em especial através da modalidade a distância. Mas, para que isso aconteça, tais cursos devem ser dinâmicos, integrando diferentes mídias, auxiliadas por metodologias de trabalho que problematizem, dialoguem com os docentes, construindo, através da interação, aprendizagens significativas, relacionadas, de fato, com a prática em sala de aula.

Conclui-se, ainda, que a formação continuada deve ser significativa para o profissional docente, ajudando a provocar mudanças em sua postura em sala de aula. Para isso, deve conseguir formar um educador competente em sua profissão, a partir de recursos por ele dispostos, um professor que possua uma fundamentação teórica consistente, que seja consciente de todos os aspectos que influenciam a educação, sejam eles sociais, culturais, políticos ou econômicos.

 

REFERÊNCIAS

 

BRRANCO, C. Formação continuada de professores: focalizando a relação teoria-prática. Disponível em: . Acesso em: 29 nov. 2016.

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